Expensive Soul
Publicado em Maio de 2010 na Time Out:
Expensive Soul
Utopia
New Max/Vidisco
*****
Contrariando o pior lugar-comum da música popular (aquele que diz que a inspiração só existe quando se está deprimido), o terceiro álbum de New Max e Demo soa como se tivesse sido concebido em estado de paixão e felicidade, na sua variante humana, material. Sem cinismo ou pose pós-moderna. Há um mundo de coisas a acontecer nas suas 14 canções, múltiplos sons a atravessá-las. Sons com uma riqueza tridimensional, sinestésicos mas sempre com a máxima leveza.
Utopia tem temas directos, soul-pop e radiosos como “Dou-te Nada”, “Só Contigo” e “O Amor É Mágico” (o acerto dos títulos com a música é outro dos inúmeros atributos do disco), que são o som de uma Motown que não chegou a sair de Detroit. Em “Deixei de Ser Bandido”, a lubricidade da guitarra e dos sintetizadores correm exactamente no sentido oposto ao tom de regeneração e fidelidade afirmado nos versos; isto antes de o tema ser tomado, por breves segundos finais, pelo espírito anárquico de Sly Stone. “São Dicas” é um gelado hip-hop com cobertura de ácidos – a prova está naqueles ritmos arrastados. A partir dos três minutos, a meia dúzia de almas que dá corpo a “Contador de Histórias” parece multiplicar-se num coro e orquestra celestiais, magia de estúdio que remete para momentos de What’s Going On de Marvin Gaye. É nesse mesmo estado de levitação psicadélica que tudo se mantém ao longo de “Contra-Corrente” (até ao instante final, onde uma canção-dentro-da-canção vira tudo do avesso). “Contra-Corrente” está entre as duas ou três melhores canções feitas neste século em Portugal. Um Portugal que, se calhar, nunca teve um visionário pop como New Max. Utopia dá bom nome aos discos adultos. À beira-mar em Leça da Palmeira, na Cidade do Cabo ou em Tóquio.
Expensive Soul
Utopia
New Max/Vidisco
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Contrariando o pior lugar-comum da música popular (aquele que diz que a inspiração só existe quando se está deprimido), o terceiro álbum de New Max e Demo soa como se tivesse sido concebido em estado de paixão e felicidade, na sua variante humana, material. Sem cinismo ou pose pós-moderna. Há um mundo de coisas a acontecer nas suas 14 canções, múltiplos sons a atravessá-las. Sons com uma riqueza tridimensional, sinestésicos mas sempre com a máxima leveza.
Utopia tem temas directos, soul-pop e radiosos como “Dou-te Nada”, “Só Contigo” e “O Amor É Mágico” (o acerto dos títulos com a música é outro dos inúmeros atributos do disco), que são o som de uma Motown que não chegou a sair de Detroit. Em “Deixei de Ser Bandido”, a lubricidade da guitarra e dos sintetizadores correm exactamente no sentido oposto ao tom de regeneração e fidelidade afirmado nos versos; isto antes de o tema ser tomado, por breves segundos finais, pelo espírito anárquico de Sly Stone. “São Dicas” é um gelado hip-hop com cobertura de ácidos – a prova está naqueles ritmos arrastados. A partir dos três minutos, a meia dúzia de almas que dá corpo a “Contador de Histórias” parece multiplicar-se num coro e orquestra celestiais, magia de estúdio que remete para momentos de What’s Going On de Marvin Gaye. É nesse mesmo estado de levitação psicadélica que tudo se mantém ao longo de “Contra-Corrente” (até ao instante final, onde uma canção-dentro-da-canção vira tudo do avesso). “Contra-Corrente” está entre as duas ou três melhores canções feitas neste século em Portugal. Um Portugal que, se calhar, nunca teve um visionário pop como New Max. Utopia dá bom nome aos discos adultos. À beira-mar em Leça da Palmeira, na Cidade do Cabo ou em Tóquio.
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