Blind Zero

Publicado em Junho de 2010 na Time Out:


Blind Zero
Luna Park
RedLemon/EMI

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A história de Luna Park e dos Blind Zero em 2010 é uma história improvável. Sem álbum novo desde 2005 e sem editora multinacional, o mais plausível seria imaginar um grupo em suave dissolução, o seu ponto alto há muito ultrapassado. Mas eis que eles regressam num formato semi-independente e, em vez de aproveitarem a liberdade para soltarem um pesaroso e naturalista pastelão inspirado em Jeff Buckley ou nos dias ruins de Neil Young, concebem o melhor, mais directo e comercial (no sentido generoso do termo) lote de canções da sua carreira.

Mais de metade de Luna Park debruça-se sobre o que aconteceu ao rock americano dos anos 70 quando chegou aos 80s. Produção mais limpa, adeus às gangas e à poeira da estrada, mais superfícies luminosas e vidros espelhados, e carros vistosos com ar condicionado. As canções vêm repletas de melodias – daquelas melodias ambíguas e agridoces. Também não faltam meticulosas e preciosas decisões que parecem contra-intuitivas. Os teclados estão mais proeminentes, as guitarras mais distantes e lustradas. São uns Blind Zero mais pop, mas não são uns Blind Zero pop. “Snow Girl” é o melhor exemplar da nova abordagem, com a sua caixa de ritmos e piano gotejante. “Slow Time Love”, já se sabe, tem a forma de um amplo crescendo. Um método que é repetido, novamente com sucesso, em “Back to the Fire”: a espécie de refrão ali plantado é entregue com renovada intensidade a cada aparição. “Hanging Wall” possui o psicadelismo líquido de quem não precisa de ácidos ou túnicas para levantar voo.

Nos novos Blind Zero continuam a haver várias partes de Bruce Springsteen, além de um não-sei-o-quê de Killers e de U2 do período Achtung Baby – Pop. Nas faixas em que as guitarras chegam ao vermelho, as nuvens de electricidade atrapalham as ideias e as guinadas melódicas. Não acontece muitas vezes, e mesmo assim as canções, épicas, sobrevivem.

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