Purga

É o que Simon Reynolds está a fazer à sua colecção de artefactos sonoros, no momento em que cumpre 20 anos de actividade escrita profissional. Um problema mais ou menos comum a todos os que vivem com música constantemente na cabeça. Curiosamente, e salvo óbvias diferenças (abissais, presumo) de escala, é exactamente algo de muito parecido que ando a ganhar coragem para fazer num futuro muito, muito próximo. Também por questões de espaço e porque, quando olho para as prateleiras e armários carregados de plástico, é gritantemente óbvio que não há vida (em quantidade e qualidade) que chegue para considerar com seriedade a hipótese de voltar a ouvir muitos, muitos, muitos destes discos (uma lógica que estou igualmente a aplicar aos jornais e revistas que já estão espalhados por três casas). E mais outra coincidência: é também pelo lado do pós-rock americano, bizarrias experimentais digitais e hip-hop que o meu espólio deve levar corte mais radical. Tendo ultimamente a concordar cada vez mais com esta ideia de SR: «(...)overall the connective thread running through this purge was that wherever there was a whiff of innovation-for-its-own-sake, without any other expressive purpose (on the individual level) or exciting social energy attached, then I’ve been inclined to wave it goodbye. As much as I value innovation, experimentalism, futurism, etc, where that seems like the sole axe being ground, it's not ultimately that interesting to me. Or at least, it might have grabbed initially, but that fades away.» Não o sinto sequer como um programa estético apriorístico - é simplesmente o que vejo suceder quando prefiro ouvir A em vez de B, quando sinto afinidade com C e apenas, quando muito, admiração por D. Assim que houver lista completa de vítimas da purga, em disco e em papel (algures nos primeiros meses do ano novo, se tudo correr bem) serão os primeiros a saber e a, porventura, deitar mão a alguma coisa.

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