Robert Plant
Publicado na Time Out em Setembro de 2010:
Robert Plant
Band of Joy
Decca/Universal
***
Nem uma força da natureza rock como Robert Plant parece escapar a uma premissa fatal: um disco de versões pode dar brilho aos mais puros dotes de interpretação dos recriadores e mostrar ângulos inesperados de material já conhecido, mas o valor de uma canção é o valor de uma canção. E o valor das canções de Band of Joy, álbum desenterrado de uma América longínqua e sem arranha-céus, é desigual.
O início promete, com “Angel Dance”, um tema de Los Lobos, a que se segue o momento mais alto do álbum, na forma de “House of Cards”, de Richard e Linda Thompson, entregue com densidade instrumental, eloquência e minúcia. Neste par de temas, mas também no instante rock soprado directamente dos anos 50 chamado “You Can’t Buy My Love” e na única faixa inédita do disco, “Central Two-O-Nine” (country-folk-blues ameaçador, tradicionalíssimo), escutam-se formas de contornar outro problema de Band of Joy: a modorra instrumental semi-acústica que ameaça as canções como uma camisa-de-forças e que projecta ecos do intragável country alternativo que, na mudança de século, serviu de refúgio temporário a indies deprimidos. Neste cenário, a banda que rodeia Plant soa a erro de casting, mas tal pode dever-se apenas à produção, tépida e mortiça, como uma nuvem cor de chumbo estacionada sobre as cabeças e que nunca entrega a tempestade prometida. Uma produção que não consegue arranjar pontas soltas interessantes para resgatar os dois blocos intermináveis e entediantes dos Low que, desgraçadamente, vieram parar a este disco (“Silver Rider” e “Monkey”), canções nulas e tão prazenteiras como mastigar lentamente o conteúdo de uma caixa inteira de Xanax. O que vale é que à sua volta estão faixas superlativas como a country-pop springsteenesca, terna e orvalhada de “The Only Sound That Matters” (de uns Milton Tapes) e o evocativo “Harm’s Swift Way” de Townes Van Zandt. E o que vale é que em primeiro plano está sempre uma voz extraordinária, expressiva, elástica.
Robert Plant
Band of Joy
Decca/Universal
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Nem uma força da natureza rock como Robert Plant parece escapar a uma premissa fatal: um disco de versões pode dar brilho aos mais puros dotes de interpretação dos recriadores e mostrar ângulos inesperados de material já conhecido, mas o valor de uma canção é o valor de uma canção. E o valor das canções de Band of Joy, álbum desenterrado de uma América longínqua e sem arranha-céus, é desigual.
O início promete, com “Angel Dance”, um tema de Los Lobos, a que se segue o momento mais alto do álbum, na forma de “House of Cards”, de Richard e Linda Thompson, entregue com densidade instrumental, eloquência e minúcia. Neste par de temas, mas também no instante rock soprado directamente dos anos 50 chamado “You Can’t Buy My Love” e na única faixa inédita do disco, “Central Two-O-Nine” (country-folk-blues ameaçador, tradicionalíssimo), escutam-se formas de contornar outro problema de Band of Joy: a modorra instrumental semi-acústica que ameaça as canções como uma camisa-de-forças e que projecta ecos do intragável country alternativo que, na mudança de século, serviu de refúgio temporário a indies deprimidos. Neste cenário, a banda que rodeia Plant soa a erro de casting, mas tal pode dever-se apenas à produção, tépida e mortiça, como uma nuvem cor de chumbo estacionada sobre as cabeças e que nunca entrega a tempestade prometida. Uma produção que não consegue arranjar pontas soltas interessantes para resgatar os dois blocos intermináveis e entediantes dos Low que, desgraçadamente, vieram parar a este disco (“Silver Rider” e “Monkey”), canções nulas e tão prazenteiras como mastigar lentamente o conteúdo de uma caixa inteira de Xanax. O que vale é que à sua volta estão faixas superlativas como a country-pop springsteenesca, terna e orvalhada de “The Only Sound That Matters” (de uns Milton Tapes) e o evocativo “Harm’s Swift Way” de Townes Van Zandt. E o que vale é que em primeiro plano está sempre uma voz extraordinária, expressiva, elástica.
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