Time Out 106

Diana Krall

Basement Jaxx/ David Guetta/ Felix da Housecat:

Esta rave não é para tenrinhos

Um bom produtor de música de dança tem de ser, no mínimo, trintão. Não acreditam? Três exemplos chegam?

Não é fácil encontrar gente no rock mais alternativo ou mais mainstream a fazer música resplandecente de vitalidade ao cabo de 15, 20 anos de carreira. Exactamente o contrário do que acontece no bem mais turbulento mundo da música de dança, onde poucos são os que se aguentam muito tempo na primeira linha – mas quando se aguentam, entregam música consideravelmente mais vital, enérgica e atenta ao presente do que a brigada das guitarras eléctricas.
Assim acontece na deliciosa caldeirada de álbum agora inventada pelos Basement Jaxx. Scars (XL/ Popstock), que é o seu melhor registo desde o monumental Rooty (2001), exala uma alegria tão invulgar quanto contagiosa. As suas faixas tanto passam por uma Nova Iorque e uma Londres multiétnicas (ele é reggae tresmalhado, hip-hop, ska, electro…) como deslizam por África e apanham voos para o Havai e para uma rave em Goa, e em todos estes lugares vive-se num eterno pôr-do-Sol de Verão. Há um ror de oportunos cantores convidados (Kelis, Santigold, Amp Fiddler, Yo Majesty, Yoko Ono, etc.), mas é com a voz ténue do Jaxx Felix Buxton, no glorioso “Raindrops”, que Scars chega ao auge.
Não é pelo lado da euforia que se notam diferenças entre Scars e One Love (Gum Prod/ EMI), quarto álbum do produtor e DJ francês David Guetta. A diferença está, isso sim, na geografia e no género: a transa entre a música urbana negra americana e o tecno europeu colorido é um dos fenómenos mais fascinantes que a música popular revelou esta década, e Guetta tem tido um papel importante neste filme – é reparar, por exemplo, nos créditos do óptimo The E.N.D. dos Black Eyed Peas. One Love é um corropio de canções tão simples quanto demolidoras, vozes que trocam as voltas à cabeça (sobretudo a de Kelly Rowland, no hit “When Love Takes Over” e não só), crescendos e efeitos especiais de tecno maximal e golpes electro. Ter ideias fixas deste calibre tem bastantes vantagens.
Felix da Housecat é ainda mais monotemático. Em He Was King (Nettwerk/ Edel) só valem duas coisas, e duas coisas ligadas pelo umbigo: Prince e o electro. A faixa de abertura chama-se “We All Wanna Be Prince” e é um aglomerado de citações musicais e líricas de Sua Purpureza (fase anos 80, claro) que está entre a homenagem e o stalking. O resto de He Was King é excessivo, pornográfico e maníaco, com canções onde os sintetizadores invadem o ouvinte como doenças venéreas – mas em bom.

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