Blitz
Cheguei ao Blitz em Fevereiro de 1995. Saí em Agosto de 2000. Voltei em Novembro ou Dezembro de 2001. Saio em Abril de 2006.
Tive quatro directores no Blitz - Rui Monteiro (1995-2000), Sónia Pereira (2001-2003), Pedro Gonçalves (2003-2005), e Miguel Francisco Cadete (2006). Pelo meio houve um interino.
Fui editor do Blitz entre Junho ou Julho de 2003 e Junho ou Julho de 2004.
Fui do Blitz sempre a partir do Porto. Em parte por gostar de ser do Blitz a partir do Porto, em parte porque os convites para mudar-me para Lisboa não foram financeiramente irrecusáveis.
Olhando para o percurso do Blitz pela óptica de 2006 (em tempo real é muitíssimo mais difícil pensar assim) acho que a grande mudança que o Blitz necessitava devia ter acontecido em 1999/2000. Nessa altura tinha o prestígio, as vendas (em deslize suave, ainda assim abundantes), a publicidade, a influência, os Prémios e mais fidelidade. Tinha outra margem de manobra para escolher entre várias vias de mudança. De, acaso isso fosse preciso, mudar de pele e (re)lançar-se para uma realidade pós-Internet. Tinha tempo q.b. para se consolidar num corpo mais ou menos diferente.
Podia seguir como semanário em papel jornal para todas as minorias esteticamente entusiasmantes, incontornavelmente alerta para tudo o que assomasse o horizonte - provavelmente com menos leitores, mas com leitores mais «militantes», se do jornal saísse uma impressão de cobertura intensiva do que escolhera tratar, e de autoridade crítica e informativa. Salvaguardaria o prestígio e a influência (bens preciosíssimos, fáceis de perder, dificílimos de recuperar), mesmo com prejuízo da sua dimensão e, se calhar, de fatia do mercado publicitário. Compreendo, todavia, que pequenas aventuras assim seriam de escasso interesse para um grande grupo de comunicação social.
Podia fazer uma mutação rumo a um objecto culturalmente abrangente, como Les Inrockuptibles já fizera nessa altura. Em formato revista semanal. Implicaria coragem para o embate da ruptura, investimento grande, mas também espectro de leitores potenciais bem mais alargado. Seria, todavia, uma mudança forçosamente radical, forçosamente assumida por inteiro. Seria também bastante arriscada - Les Inrockuptibles é exemplo único (que eu conheça) e de implantação francófona. E a influência da visão francófona na realidade cultural portuguesa é coisa cada vez mais de outros tempos.
Podia seguir os exemplos de sucesso do universo britânico e americano, sobretudo a partir da década de 1990, e passar a revista mensal generalista, inteligente, sobretudo para um leque etário dos 20 e tal para cima, com dinheiro para gastar, vontade de folhear publicações que falam do que conhece e um mínimo de curiosidade sobre coisas novas. Seria a aposta mais segura e potencialmente interessante para a estrutura empresarial que gere o Blitz.
(Não escondo que coloquei as três hipóteses por ordem decrescente de preferência. Mas que fique claro que não desgosto de nenhuma.)
Foi esta última a via escolhida em 2006. Tem ao leme o Miguel Francisco Cadete, a pessoa certa, convicta, para fazer do Blitz novo uma coisa digna e boa. Desejo-lhe a (muita) sorte e força que necessita. A ele e, é claro, a quem com ele segue nesta aventura nova.
Tive quatro directores no Blitz - Rui Monteiro (1995-2000), Sónia Pereira (2001-2003), Pedro Gonçalves (2003-2005), e Miguel Francisco Cadete (2006). Pelo meio houve um interino.
Fui editor do Blitz entre Junho ou Julho de 2003 e Junho ou Julho de 2004.
Fui do Blitz sempre a partir do Porto. Em parte por gostar de ser do Blitz a partir do Porto, em parte porque os convites para mudar-me para Lisboa não foram financeiramente irrecusáveis.
Olhando para o percurso do Blitz pela óptica de 2006 (em tempo real é muitíssimo mais difícil pensar assim) acho que a grande mudança que o Blitz necessitava devia ter acontecido em 1999/2000. Nessa altura tinha o prestígio, as vendas (em deslize suave, ainda assim abundantes), a publicidade, a influência, os Prémios e mais fidelidade. Tinha outra margem de manobra para escolher entre várias vias de mudança. De, acaso isso fosse preciso, mudar de pele e (re)lançar-se para uma realidade pós-Internet. Tinha tempo q.b. para se consolidar num corpo mais ou menos diferente.
Podia seguir como semanário em papel jornal para todas as minorias esteticamente entusiasmantes, incontornavelmente alerta para tudo o que assomasse o horizonte - provavelmente com menos leitores, mas com leitores mais «militantes», se do jornal saísse uma impressão de cobertura intensiva do que escolhera tratar, e de autoridade crítica e informativa. Salvaguardaria o prestígio e a influência (bens preciosíssimos, fáceis de perder, dificílimos de recuperar), mesmo com prejuízo da sua dimensão e, se calhar, de fatia do mercado publicitário. Compreendo, todavia, que pequenas aventuras assim seriam de escasso interesse para um grande grupo de comunicação social.
Podia fazer uma mutação rumo a um objecto culturalmente abrangente, como Les Inrockuptibles já fizera nessa altura. Em formato revista semanal. Implicaria coragem para o embate da ruptura, investimento grande, mas também espectro de leitores potenciais bem mais alargado. Seria, todavia, uma mudança forçosamente radical, forçosamente assumida por inteiro. Seria também bastante arriscada - Les Inrockuptibles é exemplo único (que eu conheça) e de implantação francófona. E a influência da visão francófona na realidade cultural portuguesa é coisa cada vez mais de outros tempos.
Podia seguir os exemplos de sucesso do universo britânico e americano, sobretudo a partir da década de 1990, e passar a revista mensal generalista, inteligente, sobretudo para um leque etário dos 20 e tal para cima, com dinheiro para gastar, vontade de folhear publicações que falam do que conhece e um mínimo de curiosidade sobre coisas novas. Seria a aposta mais segura e potencialmente interessante para a estrutura empresarial que gere o Blitz.
(Não escondo que coloquei as três hipóteses por ordem decrescente de preferência. Mas que fique claro que não desgosto de nenhuma.)
Foi esta última a via escolhida em 2006. Tem ao leme o Miguel Francisco Cadete, a pessoa certa, convicta, para fazer do Blitz novo uma coisa digna e boa. Desejo-lhe a (muita) sorte e força que necessita. A ele e, é claro, a quem com ele segue nesta aventura nova.
Comentários
nunosjorge
O Blitz terá uma redacção de apenas três pessoas (director + 2 redactores) mas, creio eu, uma equipa razoável de colaboradores. Não será feita apenas a 3! Neste aspecto (quadro fixo reduzido, recurso abundante a colaborações externas) aproxima-se da forma de fazer este tipo de publicações no RU e nos EUA. A uma escala portuguesa, porventura, mas numa lógica idêntica.
Ao Beep Beep e a todos os outros:
Obrigado pela atenção e pelas palavras. Não se esqueçam que o Blitz, para todos os efeitos, não morreu. Se têm estima pela memória do semanário, dêem pelo menos uma (ou duas, ou três...) hipótese ao novo Blitz. Quem lá fica ao leme e na redacção merece-o.
o nu-metal, tão ao gosto da menina, afastou mais gente do que conquistou... se o objectivo era cativar os mais novos, o tiro saiu ao lado. os mais novos não se interessavam minimamente por um jornal musical (diria mais, não se interessavam por um jornal, ponto final). os mais velhos, os fiéis, os militantes, deixaram de se identificar com os conteudos com esta obvia colagem ao mainstream radical-fashion-teen.
eu, pelo menos, deixei de comprar o Blitz semanalmente como religiosamente fazia desde o inicio dos 90, gostasse ou não da capa que trouxesse...
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http://toxicidades.blogspot.com
Diz, por favor, o que entendes por ser uma publicação mais humilde - por exemplo, o que é que o Blitz devia ter feito nesses exemplos concretos em que foi arrogante e prepotente.
Cumprimentos.
.
http://toxicidades.blogspot.com
Em discussões amigáveis, houve mesmo quem me tivesse chamado de paladino do Blitz, tal era a garra e convicção com que defendia os atributos do jornal durante a década que conheceu a formação do meu gosto musical. Não suportava o facto de alguém maldizer o Blitz por uma opinião menos favorável ao artista da sua preferência. Amo os Weezer dos primeiros discos e não me senti minimamente magoado com a sova que mereceu o último disco. Mas chegou o momento em que os destaques do Blitz se tornaram impossíveis de defender, assim que mergulhou numa tripe nostálgica que não dizia muito aos 19-25 e que os além 30 já deviam ter na ponta da lingua. Apercebi-me de que tinha cessado a minha paixão pelo Blitz quando tinha dominadas todas as situações citadas por um especial dedicado ao punk ou aos pink floyd desta ou daquela fase. Não havia novidade alguma naquele centerfold... Daí que me manifestei e vi com satisfação ser publicada uma carta que enviei ao cuidado do Caro Jorge Mourinha. Desde essa semana passei a comprar o jornal com regularidade incerta.
Não vejo arrogância de maior nos últimos anos de Blitz. Pegar nessa perspectiva é uma caça às bruxas.
Desejo as melhores felicidades ao si, JML, Gonçalo Frota e todos os outros. Nomes a que desde sempre apreciei o trabalho e que, inclusive, me serviram de modelo inicial à prática da crítica musical que exerço habitualmente.
o bliz nunca pecou pelo método, abordagem ou teor idiossincrático de um qualquer artigo. vacilou apenas por opções editoriais que estagnaram em comparação com locomotivas estrangeiras da critica musical online. pessoalmente, posso afirmar que durante os últimos anos continuei a ler com o mesmo entusiasmo as críticas a discos (destaques houve que foram brilhantes e capazes de fazer reconsiderar a facção anti-blitz), mas fui deixando aos poucos de perder tempo com as retrospectivas e artigos down the memory lane (ainda assim, gostei do apanhado de funkadelic já na recta final). o derradeiro choque - de que nunca recuperaria - terá sido mesmo ver o robbie williams na capa e pensar no número de entertainers actuais que podiam estar no lugar dele. quando a fachada do blitz e da super-pop se torna confundível nas bancas de uma tabacaria, então não há identidade que resista e o imenso respeito que acumula uma instituição como blitz suportaria apenas uma quantidade exacta de punhais pop-plásticos até derramar o sangue que acabou por verter.
ainda assim, vou comprar o número de junho como se fosse o primeiro de uma nova vida. sem preconceitos.
Há 2 anos o jornal podia n reflectir como devia tudo o q de entusiasmante acontecia no mundo (dos sons), mas nunca, nunca, se guiaram no q escreviam pelo q as editoras e patrocinadores queriam. Afirmo-o de caras porque fui editor do Blitz em parte importante desse período.
Fazer 1 reportagem eventualmente incompleta n é o mesmo q ser tendencioso. (Há a questão de, por vezes, poder ser-se excessivamente cauteloso. O q pode ser, realmente, 1 problema.)
Os «atestados de incompetência» passados a várias cartas de vários leitores foram inteiramente merecidos. As cartas em questão n pediam outra coisa. Discordo em absoluto da ideologia do «cliente tem sempre razão». N, n tem. O «problema» da Voz do Povo em 2003 e 2004 é q deu o + alargado espaço de sempre na história do Blitz (Pregões à parte) às missivas dos leitores. Infelizmente, 1 grande maioria dos q optavam por nos escrever limitavam-se a despejar amuos e a indigência mental das teorias conspirativas. É claro q as cartas pediam respostas de quem trabalhava no Blitz. É claro q, em diversos casos, as respostas n podiam ser simpáticas, i.e. n podiam ser 1 vergar da espinha e dizer amen a «clientes» burgessos. Tem a ver com dignidade profissional, honestidade intelectual, that sort of thing.
(por outras palavras, o q o beep beep escreveu... :-))
Ao Miguel:
Sim, é +/- isso. Com a diferença q n vejo como «punhais pop-plásticos» (hey, boa expressão!) possa ser depreciativo. :-)) E q seria interessante q muito + gente tivesse em conta q foi durante o supostamente tenebroso e ditatorialmente nu-metal consulado da Sónia Pereira q publiquei 1 entrevista de 4 (quatro) páginas com o Simon Reynolds, e entrevistas muito generosas com o dj/rupture, Kevin Blechdom, Position Normal, e outras excentricidades q só teriam visibilifdade remotamente comparável na imprensa nacional anos + tarde, quando começaram a actuar em Portugal. O consulado da Sónia teve aspectos desagradáveis e injustos (sobretudo, a dispensa dos serviços do Luís Guerra e do Mário Lopes), mas acho q ela fez 1 trabalho no Blitz q merecia apreciação + positiva do q o lugar-comum do ataque nu-metal (e o próprio nu-metal teve várias coisas entusiasmantes q, espero eu, hão-de ser devidamente reapreciadas quando chegar a sua hora de revivalismo; but that's another cup of tea).