Margaret Atwood - O Assassino Cego

Publicado em Abril na Time Out Lisboa:

O Assassino Cego
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Margaret Atwood
Bertrand

É praticamente impossível sentir empatia pelas personagens que passam por O Assassino Cego. No máximo, fica-se com uma certa pena. Há uma distância, presume-se que deliberada, entre quem lê e a misturada de famílias privilegiadas, revolucionários profissionais e criadagem de aldeia que dá corpo a este admirável livro de Margaret Atwood que lhe valeu o Booker Prize em 2000.

As primeiras páginas (primeiras, mas muitas) de O Assassino Cego são um espantoso fogo cruzado de fios narrativos dentro de fios narrativos (a comparação com uma matrioska é justa e comum nas recensões ao livro) que pede em troca tempo, atenção, disponibilidade. O enredo-farol é o da vida de Iris Chase Griffen e das suas origens numa família da província, abastada graças à indústria dos botões. Um enredo que começa ainda no século XIX mas que se concentra sobretudo no período entre as duas guerras mundiais, resolvendo-se no essencial em 1945 quando Laura Chase, irmã mais nova de Iris, se lança para a morte ao volante de um Bentley. Laura vira ídolo de adolescentes atraídos por outsiders trágicas quando surge como autora de um livro póstumo e escabroso chamado… O Assassino Cego; título que faz referência a uma história de ficção científica contada neste livro-dentro-do-livro.

O emaranhado em que a obra de Margaret Atwood se (e nos) mete é bem mais denso mas vale cada uma das suas 600 e poucas páginas. É um caldeirão dramático, descrito com secura e golpes de um humor frio, cheio de remorso, apatia e azedume.

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