Justin Bieber



Justin Bieber
Purpose
Def Jam/Universal
3/5

Justin Bieber está mais choramingão, um problema que afecta demasiados adultos. Por isso, esclareça-se já que os singles previamente conhecidos, e onde esse defeito está sob controlo, são do melhor que se encontra em Purpose: house tropical em “What Do You Mean?” e “Where Are Ü Now?”, um pouco de dancehall em “Sorry”. A que se junta o mergulho pop-EDM, directo e ortodoxo, em “Children”. Três destas quatro canções têm mão de Skrillex, sem o qual este disco aproximar-se-ia do indigesto.

A câmara lenta umas vezes resulta, outras não. Nem é uma questão de excesso de introspecção nocturna, antes da textura, que já está batida, e do ensimesmamento de alguns exemplares. Sabia-se que ter Bieber a sós com uma guitarra é pretexto para a lamúria porque já houve um álbum inteiro disso, Believe Acoustic, em 2013, o que prepara o ouvinte para a dolência de “Love Yourself”. “The Feeling” é um refrão à procura de uma canção, a interpretação do canadiano ainda mais evanescente do que no resto de Purpose. “Life Is Worth Living” e o tema-título hão de ser sentidos, mas estão naquele ponto em que uma balada ao piano oscila na extremidade do penhasco das ideias gastas e cai. A excepção é “I’ll Show You”, com o contraponto dos lençóis sintéticos e melódicos no refrão.

Pelo álbum passa também uma sensação de cansaço crepuscular, e de excesso precoce de tudo, que já atravessava Revival, da contemporânea (e ex-namorada) Selena Gomez, bem exemplificada pelo synth-funk de “Company”. As slow-jams existenciais com rappers a ajudar (Big Sean aqui, Travi$ Scott acolá) também resultam em arquitecturas satisfatórias. Ainda assim, e apesar da busca louvável e necessária de rumo, Justin Bieber tenta desta vez ser mais coisas do que o arcaboiço criativo permitia, acabando com um álbum irregular no regaço, uma longa (18 faixas na edição Deluxe) sucessão aleatória de joias e soporíferos. 

(Publicado em Dezembro de 2015 na Time Out Lisboa.)

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