Vinicius Cantuáriua @ Palácio de Cristal
(originalmente publicado no Blitz em Agosto de 1999)
BOSSA MOLHADA
Quando, horas antes do concerto de terça-feira, integrado nas 200e1 Noites de Verão nos jardins do Palácio de Cristal, no Porto, alguém descrevia a música de Vinicius Cantuária como "bossa nova em estado líquido" ou algo parecido, fazia-o, certamente, sem ponta de ironia. Também se calcula que o autor da frase não possui poderes visionários sobre o futuro. A verdade, contudo, é que o muito público que acorreu aos jardins acabou por levar com uma sessão de bossa nova literalmente em estado líquido. Isto é, teve direito à música deliciosamente flutuante do autor do celebrado álbum Tucumã, recentemente editado, mais uma colossal borrasca que se prolongou por todo o concerto e deixou a maior parte dos presentes molhados até aos ossos, enquanto um punhado de felizardos se refugiava na estreita aba do Pavilhão Rosa Mota, o único abrigo possível por estas paragens.
Nestas condições, é de esperar que os artistas emprestem aos argumentos musicais uma dose especial de ânimo, muitas vezes traduzido em mais decibéis e adrenalina. Vinicius Cantuária, pelo contrário, limitou-se a abrir o livro das canções e deixá-las respirar. Nada mais. E nada mais é necessário quando se tem um repertório assim, onde as canções vivem da e para a simplicidade, onde uma guitarra minimal e uma voz modesta desafiam a gravidade e passam por nós como uma brisa. Um repertório que transporta a bossa nova (e não só) para novas paisagens à custa de breves e inesperadas inflexões dos acordes da viola e da imponderável subtileza dos arranjos que envolvem o violoncelo, a bateria e os instrumentos de sopro. Canções que parecem dissipar-se no ar e que permitem que a chuva também se faça ouvir.
Às vezes, Vinicius fala de Copacabana, do Verão e do Rio de Janeiro, e nós, aqui, ensopados, deixando que a imaginação troque as voltas ao clima e proclame um estio eterno. Ele diz que a sua música, uma música que tem atraído para a sua órbita gente tão respeitável como Caetano Veloso, Laurie Anderson, Arto Lindsay ou Bill Frisell, é um reflexo da alma, uma alma que é frágil mas que guarda um espírito forte. Às vezes, as almas frágeis partilham o mesmo espaço. Vinicius Cantuária agradece, no final, a capacidade de resistência à chuva. Não é de resistência à chuva que se trata, mas sim da mais pura rendição à música.
BOSSA MOLHADA
Quando, horas antes do concerto de terça-feira, integrado nas 200e1 Noites de Verão nos jardins do Palácio de Cristal, no Porto, alguém descrevia a música de Vinicius Cantuária como "bossa nova em estado líquido" ou algo parecido, fazia-o, certamente, sem ponta de ironia. Também se calcula que o autor da frase não possui poderes visionários sobre o futuro. A verdade, contudo, é que o muito público que acorreu aos jardins acabou por levar com uma sessão de bossa nova literalmente em estado líquido. Isto é, teve direito à música deliciosamente flutuante do autor do celebrado álbum Tucumã, recentemente editado, mais uma colossal borrasca que se prolongou por todo o concerto e deixou a maior parte dos presentes molhados até aos ossos, enquanto um punhado de felizardos se refugiava na estreita aba do Pavilhão Rosa Mota, o único abrigo possível por estas paragens.
Nestas condições, é de esperar que os artistas emprestem aos argumentos musicais uma dose especial de ânimo, muitas vezes traduzido em mais decibéis e adrenalina. Vinicius Cantuária, pelo contrário, limitou-se a abrir o livro das canções e deixá-las respirar. Nada mais. E nada mais é necessário quando se tem um repertório assim, onde as canções vivem da e para a simplicidade, onde uma guitarra minimal e uma voz modesta desafiam a gravidade e passam por nós como uma brisa. Um repertório que transporta a bossa nova (e não só) para novas paisagens à custa de breves e inesperadas inflexões dos acordes da viola e da imponderável subtileza dos arranjos que envolvem o violoncelo, a bateria e os instrumentos de sopro. Canções que parecem dissipar-se no ar e que permitem que a chuva também se faça ouvir.
Às vezes, Vinicius fala de Copacabana, do Verão e do Rio de Janeiro, e nós, aqui, ensopados, deixando que a imaginação troque as voltas ao clima e proclame um estio eterno. Ele diz que a sua música, uma música que tem atraído para a sua órbita gente tão respeitável como Caetano Veloso, Laurie Anderson, Arto Lindsay ou Bill Frisell, é um reflexo da alma, uma alma que é frágil mas que guarda um espírito forte. Às vezes, as almas frágeis partilham o mesmo espaço. Vinicius Cantuária agradece, no final, a capacidade de resistência à chuva. Não é de resistência à chuva que se trata, mas sim da mais pura rendição à música.
Comentários
Aproveito para dizer que Vinicius Cantuária fará uma pequena digressão em Portugal. Concertos confirmados:
30 de Outubro - Sintra, C. C. Olga Cadaval (Artista convidado: COUPLE COFFEE)
31 de Outubro - Faro, Teatro das Figuras
1 de Novembro - Guimarães, C. C. Vila Flor
Ele vai apresentar seu novo album, o Cymbals. Aqui vão dois aperitivos!
http://www.mp3tube.net/musics/Vinicius-Cantuaria-Galope/220965/
http://www.mp3tube.net/musics/Vinicius-Cantuaria-O-Batuque/220969/
Parabéns pelo blog! Já marquei nos favoritos.
Abs
:s
!!???!!