Singles
(publicado no Blitz em Agosto de 1999)
REPÓRTER ESTRÁBICO - "MAMAPAPA"
(CD-Single NorteSul 1999)
Este é um exemplar com funções promocionais que antecipou a saída do álbum Mouse Music. Além de ostentar uma capa que é uma pequena obra de arte, com Luciano Barbosa a reinventar a figura do Zé Povinho no contexto hipermercantil contemporâneo (note-se que a t-shirt ostenta a palavra "Contente"), o single dá a conhecer uma divertida canção de contornos minimais (batida tecno monomaníaca, um punhado de acordes de guitarra e pouco mais), que sustenta um texto de acentuada revolta anticonsumista: "mama mama/ papa papa/ bebe bebe/ fuma fuma/ toma toma/ chupa chupa/ upa upa/ come". Come e não cala. Contente? Nem imaginam.
DARK STORY - PROFANO
(CD-Single Independent Records 1999)
Na estreia discográfica, o duo Dark Story trata de assumir o desejo de, entre outras coisas, enveredar pela criação de bandas sonoras. Na verdade, e bem vistas as coisas, as três faixas de Profano têm a dinâmica e o poder imagético mínimos para integrarem uma qualquer banda sonora de uma película da (mítica produtora de filmes britânica dos anos 50/60, especializada em Dráculas e afins) Hammer da idade moderna, ou um jogo de computador de terror hi-tech. Só é pena que as cuidadas partituras clássicas (especialmente em "A Dark Story to Tell...") tenham que partilhar o espaço com os lugares comuns do metal gótico e certas planuras sintéticas pavorosamente próximas dos Enigma. Pela positiva, noto, com enorme espanto, como a voz em "Sea Dragon" lembra os A-Ha. O que, mesmo involuntariamente, fica sempre bem.
CHICKS - "LITTLE MONKEYS WITH LOTS OF MONEY"
(Single 7' Supremo Recordings 1998)
As primeiras impressões dizem tudo. Cruzei-me com as Chicks na sua terra natal, Dublin, andavam elas a colar cartazes - fotocópias A4 anunciando um concerto - pelos postes e paredes das artérias mais movimentadas da capital irlandesa. As Chicks são um trio de raparigas ainda adolescentes, adeptas do faça-você-mesmo e de canções simples, ruidosas e rápidas, sustentadas pela energia irreprimida das guitarras e das vozes, debitando letras como panfletos e melodias como ganchos. Isto é, punk-new wave-glam rock, fazendo lembrar umas Kenickie mais subversivas. "Little Monkeys..." vem embalado num amável vinil azul bebé, e traz canções de dois minutos com títulos como "Rocca Rocka", "Feminist" ou "Jackie Chan". Grrrr!
GODSPEED YOU BLACK EMPEROR! - "SLOW RIOT FOR NEW ZERO
KANADA"
(CD-EP Kranky/Música Alternativa 1999)
Por muito que se procurem palavras menos contaminadas por um referencial folclórico e anacrónico, será extremamente difícil passar ao lado da expressão "rock sinfónico" para descrever os canadianos godspeed you black emperor! Porque isto é, literalmente, rock ampliado pela magnitude de texturas orquestrais, uma junção em tons escuros, alternadamente espartana e épica, de guitarras (três), baixos e baterias (dois de cada) e secção de cordas (dois elementos). Uma junção, em duas longas peças, da imprevisível carnalidade do rock com o requinte dos gestos abstractos, a discreta e apocalíptica solenidade da música erudita contemporânea. Música como um oceano gelado na desolação da noite.
MELOMENO RÍTMICA - "MELOMENO RÍTMICA"
(CD-Single Independent Records 1999)
Diz o comunicado de imprensa que este disco de estreia dos algarvios Melomeno Rítmica é o prémio pela vitória no concurso Maio Jovem 98. Ouvindo o resultado final, fica a dúvida se "castigo" não seria uma palavra mais adequada do que "prémio", já que as canções são desesperadamente baças, soam a velho, e percebe-se que a banda ainda não teve tempo para decidir se vai pelo caminho dos Blind Zero ("Supera-Sónico"), dos Silence 4 ("Alvo") ou, quem sabe, por um som próprio. Na verdade, esta é uma maqueta (o som é péssimo) que nunca devia ter deixado de o ser, para o bem do grupo e de todos os potenciais ouvintes. Ainda assim, recebe (3/10) porque as letras parecem fazer sentido e, acima de tudo, porque o baterista chama-se Maurício Maurício.
TURBOJUNKIE - "HAPPY!"
(CD-Single Big Thing 1999)
A alegre primeira faixa desta antecipação promocional do novo álbum dos Turbojunkie mostra-os em versão abertamente pop e muito menos freak que os últimos registos, apostada em refrões fortes com harmonias a várias vozes e numa guitarra a transbordar melodias e a lembrar vagamente Peter Frampton. Melhor ainda é o surpreendente "Black Dove", por onde irrompem portentosos teclados analógicos que dominam um registo extremamente contido, onde quase nada soa como é habitual nos Turbojunkie: o baixo é levemente funky, Simão Praça oscila entre o canto e um monólogo rouco à Isaac Hayes, e a guitarra de Paulo Praça mostra que andou a ouvir Pink Floyd.
500 & CRAVE - "500 & CRAVE"
(CD-Single Feline/Guru Records 1999)
Um dos primeiros lançamentos da Guru Records, uma nova editora/distribuidora independente nacional com contratos de intercâmbio com a britânica Feline e a canadiana Fading Ways Music. O quarteto 500 & Crave estabelece a ponte entre o Canadá de origem e a Inglaterra adoptiva, recolhendo pelo caminho (ouça-se "Channel 51", "Vulgar" e "Km's") a desenvoltura vocal ferida de Greg Dulli dos Afghan Whigs, assim como aquela estirpe de rock de grande escala que também caracteriza os autores de Black Love, apoiado na capacidade das guitarras em desdobrarem-se por intrincados e volumosos jogos melódicos e riffs de peso considerável. "Battle Back" atira-se com ganas ao power-rock dos Sugar e dos Buffalo Tom.
REPÓRTER ESTRÁBICO - "MAMAPAPA"
(CD-Single NorteSul 1999)
Este é um exemplar com funções promocionais que antecipou a saída do álbum Mouse Music. Além de ostentar uma capa que é uma pequena obra de arte, com Luciano Barbosa a reinventar a figura do Zé Povinho no contexto hipermercantil contemporâneo (note-se que a t-shirt ostenta a palavra "Contente"), o single dá a conhecer uma divertida canção de contornos minimais (batida tecno monomaníaca, um punhado de acordes de guitarra e pouco mais), que sustenta um texto de acentuada revolta anticonsumista: "mama mama/ papa papa/ bebe bebe/ fuma fuma/ toma toma/ chupa chupa/ upa upa/ come". Come e não cala. Contente? Nem imaginam.
DARK STORY - PROFANO
(CD-Single Independent Records 1999)
Na estreia discográfica, o duo Dark Story trata de assumir o desejo de, entre outras coisas, enveredar pela criação de bandas sonoras. Na verdade, e bem vistas as coisas, as três faixas de Profano têm a dinâmica e o poder imagético mínimos para integrarem uma qualquer banda sonora de uma película da (mítica produtora de filmes britânica dos anos 50/60, especializada em Dráculas e afins) Hammer da idade moderna, ou um jogo de computador de terror hi-tech. Só é pena que as cuidadas partituras clássicas (especialmente em "A Dark Story to Tell...") tenham que partilhar o espaço com os lugares comuns do metal gótico e certas planuras sintéticas pavorosamente próximas dos Enigma. Pela positiva, noto, com enorme espanto, como a voz em "Sea Dragon" lembra os A-Ha. O que, mesmo involuntariamente, fica sempre bem.
CHICKS - "LITTLE MONKEYS WITH LOTS OF MONEY"
(Single 7' Supremo Recordings 1998)
As primeiras impressões dizem tudo. Cruzei-me com as Chicks na sua terra natal, Dublin, andavam elas a colar cartazes - fotocópias A4 anunciando um concerto - pelos postes e paredes das artérias mais movimentadas da capital irlandesa. As Chicks são um trio de raparigas ainda adolescentes, adeptas do faça-você-mesmo e de canções simples, ruidosas e rápidas, sustentadas pela energia irreprimida das guitarras e das vozes, debitando letras como panfletos e melodias como ganchos. Isto é, punk-new wave-glam rock, fazendo lembrar umas Kenickie mais subversivas. "Little Monkeys..." vem embalado num amável vinil azul bebé, e traz canções de dois minutos com títulos como "Rocca Rocka", "Feminist" ou "Jackie Chan". Grrrr!
GODSPEED YOU BLACK EMPEROR! - "SLOW RIOT FOR NEW ZERO
KANADA"
(CD-EP Kranky/Música Alternativa 1999)
Por muito que se procurem palavras menos contaminadas por um referencial folclórico e anacrónico, será extremamente difícil passar ao lado da expressão "rock sinfónico" para descrever os canadianos godspeed you black emperor! Porque isto é, literalmente, rock ampliado pela magnitude de texturas orquestrais, uma junção em tons escuros, alternadamente espartana e épica, de guitarras (três), baixos e baterias (dois de cada) e secção de cordas (dois elementos). Uma junção, em duas longas peças, da imprevisível carnalidade do rock com o requinte dos gestos abstractos, a discreta e apocalíptica solenidade da música erudita contemporânea. Música como um oceano gelado na desolação da noite.
MELOMENO RÍTMICA - "MELOMENO RÍTMICA"
(CD-Single Independent Records 1999)
Diz o comunicado de imprensa que este disco de estreia dos algarvios Melomeno Rítmica é o prémio pela vitória no concurso Maio Jovem 98. Ouvindo o resultado final, fica a dúvida se "castigo" não seria uma palavra mais adequada do que "prémio", já que as canções são desesperadamente baças, soam a velho, e percebe-se que a banda ainda não teve tempo para decidir se vai pelo caminho dos Blind Zero ("Supera-Sónico"), dos Silence 4 ("Alvo") ou, quem sabe, por um som próprio. Na verdade, esta é uma maqueta (o som é péssimo) que nunca devia ter deixado de o ser, para o bem do grupo e de todos os potenciais ouvintes. Ainda assim, recebe (3/10) porque as letras parecem fazer sentido e, acima de tudo, porque o baterista chama-se Maurício Maurício.
TURBOJUNKIE - "HAPPY!"
(CD-Single Big Thing 1999)
A alegre primeira faixa desta antecipação promocional do novo álbum dos Turbojunkie mostra-os em versão abertamente pop e muito menos freak que os últimos registos, apostada em refrões fortes com harmonias a várias vozes e numa guitarra a transbordar melodias e a lembrar vagamente Peter Frampton. Melhor ainda é o surpreendente "Black Dove", por onde irrompem portentosos teclados analógicos que dominam um registo extremamente contido, onde quase nada soa como é habitual nos Turbojunkie: o baixo é levemente funky, Simão Praça oscila entre o canto e um monólogo rouco à Isaac Hayes, e a guitarra de Paulo Praça mostra que andou a ouvir Pink Floyd.
500 & CRAVE - "500 & CRAVE"
(CD-Single Feline/Guru Records 1999)
Um dos primeiros lançamentos da Guru Records, uma nova editora/distribuidora independente nacional com contratos de intercâmbio com a britânica Feline e a canadiana Fading Ways Music. O quarteto 500 & Crave estabelece a ponte entre o Canadá de origem e a Inglaterra adoptiva, recolhendo pelo caminho (ouça-se "Channel 51", "Vulgar" e "Km's") a desenvoltura vocal ferida de Greg Dulli dos Afghan Whigs, assim como aquela estirpe de rock de grande escala que também caracteriza os autores de Black Love, apoiado na capacidade das guitarras em desdobrarem-se por intrincados e volumosos jogos melódicos e riffs de peso considerável. "Battle Back" atira-se com ganas ao power-rock dos Sugar e dos Buffalo Tom.
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