Super Furry Animals

(publicado no Blitz em Setembro de 1999)


SUPER FURRY ANIMALS
GUERRILLA
(Creation)

A natureza da coisa resume-se no lapidar título da 12ª faixa de Guerrilla, o terceiro álbum de originais dos galeses Super Furry Animals. A natureza da coisa não é mais do que "The Sound of Life Today" e pouco importa que o seu conteúdo consista de 21 segundos de um sintetizador num volume quase imperceptível. O Som da Vida Hoje é o único campo de trabalho suficientemente abrangente para conter a voragem criativa de um quarteto que, em poucos anos, mostra ter adquirido uma perícia notável na orquestração de milhares de referências sonoras e posterior conversão em canções pop irreais únicas. O resultado é muitíssimo mais atraente do que o estapafúrdio alien mutante amarelo que adorna a capa sugere, ficando somente a uns quantos milímetros de Fantasma, de Cornelius.

Só n'O Som da Vida Hoje seria possível iniciar um disco com uma variação sobre um sample de Young MC ("Check It Out") que se funde na tensão new wave de "Do or Die". "Northern Lites", fortíssima candidata a melhor canção de 1999, seria o resultado do encontro de Burt Bacharach e Elvis Costello (bem, imaginem que isso nunca aconteceu) numa festa de inspiração tropical junto a uma piscina em Los Angeles, rodeados de beldades em biquini e agrupamentos mariachi. O glam elástico de "Nightvision" antecipa o delírio demencial electro-baggy-euro tecno, qual encontro dos Happy Mondays e de Aphex Twin sob o efeito de ácidos no cimo da torre Eiffel, de "Wherever I Lay My Phone (That's My Home)", assim como o exercício de contemplação do pôr do Sol numa esplanada em Ibiza com o contrabaixo do grupo de jazz do bar do lado em segundo plano de «Some Things Come from Nothing». E querem saber o que é drum'n'bass havaiano? "The Door to This House Remains Open" fornece a resposta. "Fire in My Heart" consegue deslocar Nashville para Cardiff, pedra sobre pedra, com a ajuda dos Beach Boys. "Chewing Chewing Gum" é um sério alerta contra os perigos de mascar pastilha elástica na cama ao som do psicadelismo pós-Beatles, e o derradeiro "Keep the Cosmic Trigger Happy" revela-nos, em primeira mão, a canção que, um dia, representará o País de Gales independente no Festival da Eurovisão.

Agora, juntem a sobreexcelência de Guerrilla ao facto deste disco da Creation não ter tido, por aparente desinteresse público, distribuição nacional a tempo e horas, e assim perceberão melhor o sentido da tocante quadra de Morgan Llwyd impressa no livreto: "Gwir a chelwydd sydd mewn plisgyn/ Fel mewn wy mae a melyn/ Hola'r gwir: doiani derbyn/ Heded gwalch dros fin yr ellyn". Em alternativa, podem também seguir os dítames esplanados nestes versos de "Wherever I Lay My Phone (That's My Home)": "I've got City & Guilds/ I've got City & Guilds/ Shes got City, I've got guilds/ In desktop publishing/ S.F.A. OK/ S.F.A. OK." OK?

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