Londres
12 coisas sobre Londres em dois dias de Julho:
A cidade está preparada para o frio. Não está preparada para o calor. Com temperaturas acima dos 30 graus durante o dia e pouco abaixo dos 20 à noite, torna-se uma versão imensamente superior do Algarve: mais ou menos a mesma população, se bem que com muito mais estilo; infelizmente sem as praias.
Por toda a parte surgem ventoinhas e caixotes de ar condicionado portátil. Por toda a parte menos no metro, que se transforma num inferno.
Mais calor = mais poluição.
A rede de metro parece derreter-se ao Sol. Há várias estações encerradas para restauro, com previsão de abertura para o fim deste ano ou para algures em 2007. Há linhas com os horários estraçalhados – “falhas de comunicação”, dizem as vozes off; quando uma composição se materializa, ou vem tão cheia que nem se sai do cais de embarque, ou se entra e se começa a derreter em suor. Há estações que fecham de repente porque o tráfego está marado e que reabrem cinco minutos depois. Há estações que fecham e pedaços de linha interrompidos devido a “alertas de segurança”. Tudo isto numa tarde. Em simultâneo.
Três revistas compradas numa Borders. A Dummy, que não parece ser muito mais do que mais do mesmo (extinta Sleaze + NME + i-D). The Believer, revista literária americana mensal com grafismo maravilhoso, um exemplo para todas as publicações feitas de artigos extensos; compro o número anual dedicado à música, onde as coisas boas (Greil Marcus, Elizabeth Vincentelli a escrever sobre o Eurofestival, Douglas Wolk, Bun B entrevistado por Jon Caramanica) superam as outras (£10,00, a presença de Nick Hornby, um CD ainda não ouvido por ser pouco prometedor – Calexico, Jim White, Six Organs of Annoyance…); The Believer não tem publicidade. A Blender, com artigos sobre as Pussycat Dolls, T.I., Nelly Furtado, Michael Jackson, uma curiosa roadtrip musical americana…). Vi também a Modern Painters dedicada à música, que o Zé me havia mencionado, mas uma combinação de Devendra Banhart na capa e o 353000º artigo do grande Simon Reynolds sobre o pós-punk (variante nova-iorquina, a que menos me cativa) transportou o exemplar de novo para a prateleira.
A HMV de Oxford Street continua a ser a melhor loja de discos do mundo. Agora tem quatro pratos para a escuta de vinil (todos ocupados; quase uma dezena de pessoas em fila de espera), uma área muitíssimo considerável reservada ao vinil (singles, máxis, álbuns; várias reedições, quase tudo música novinha em folha), e carradas de CDs literalmente a preço de saldo (£4,00, £6,00…). Vieram singles das Gossip e The Long Blondes; máxi dos Justice; álbuns de T.I. e John Foxx. Veio também um CD compilação da própria HMV, Playlist, apanhado mensal de lançamentos novos oferecido a quem compra determinadas coisas ou quantidades (não percebi bem); o de Julho tem TV on the Radio, Archie Bronson Outfit, Regina Spektor, Lily Allen, Cut Chemist, Van Hunt, Rhymefest, Peaches… Colecção de singles eventuais bem melhor do que os CDs que vêm com as revistas-museu, com a vantagem adicional de não conter revista-museu acoplada.
O Prêt a Manger continua a ser, de muito longe, a melhor cadeia de comida “”rápida”” do mundo.
Regresso a Camden após cinco anos. Fim de tarde glorioso junto ao canal e ao mercado – tipo Albufeira transfigurado com camadas infindas de cultura pop.
Junto ao canal descubro uma loja-aquário da cadeia de lojas de discos, livros e filmes Fopp. Nunca tinha dado pela marca. É uma extraordinária loja de saldos permanentes. Organizam as prateleiras por preços, e os preços começam, salvo erro, nas £3,00 (!). Sucede que vendem tudo a preço de saldo, de fundo de catálogo a edições da semana passada. Tudo novo – nada de cenas em segunda mão. Se para um português isto é muito razoavelmente barato, para um inglês é quase dado. Não sei onde sacam o lucro, mas em algum lado hão-de sacá-lo, pois andam a abrir lojas novas em vários pontos de Londres. Trouxe o Cut das Slits e os dois primeiros do Jay-Z. Gastei £11,00.
O KoKo é um bonito teatrinho de antanho transformado em sala rock. É vermelho e dourado luxuoso por dentro. Tem bola de espelhos gigante no tecto.
Óptimo restaurante-bar beduíno perto de Hyde Park. Empregados franceses.
A edição de sexta-feira do The Guardian está francamente melhor do imaginava. O formato berliner é simpático, sim, mas um grafismo moderno e compreensível que valoriza textos extensos em vez de os anular é absolutamente essencial. Traz um caderno (formato A4) todo dedicado à gigantesca vaga de imigrantes polacos que seguiram para o Reino Unido desde a adesão da Polónia à União Europeia. Apanha-lhes histórias e busca todos os ângulos possíveis. Tem páginas sobre a cultura britânica contemporânea escritas em polaco. O equivalente do The Guardian aos nosso suplementos culturais das sextas é um caderno-extensão berliner do jornal chamado, salvo erro, Music & Films. Recomenda-se vivamente (o Guardian que chega a Portugal é a edição internacional, um resumo da versão brit, logo sem muitas destas coisas), porque parece fazer o que deve ser feito – menos textos, textos extensos. Assim de repente, parece o jornal diário que melhor reflecte o tempo em que se vive.
A cidade está preparada para o frio. Não está preparada para o calor. Com temperaturas acima dos 30 graus durante o dia e pouco abaixo dos 20 à noite, torna-se uma versão imensamente superior do Algarve: mais ou menos a mesma população, se bem que com muito mais estilo; infelizmente sem as praias.
Por toda a parte surgem ventoinhas e caixotes de ar condicionado portátil. Por toda a parte menos no metro, que se transforma num inferno.
Mais calor = mais poluição.
A rede de metro parece derreter-se ao Sol. Há várias estações encerradas para restauro, com previsão de abertura para o fim deste ano ou para algures em 2007. Há linhas com os horários estraçalhados – “falhas de comunicação”, dizem as vozes off; quando uma composição se materializa, ou vem tão cheia que nem se sai do cais de embarque, ou se entra e se começa a derreter em suor. Há estações que fecham de repente porque o tráfego está marado e que reabrem cinco minutos depois. Há estações que fecham e pedaços de linha interrompidos devido a “alertas de segurança”. Tudo isto numa tarde. Em simultâneo.
Três revistas compradas numa Borders. A Dummy, que não parece ser muito mais do que mais do mesmo (extinta Sleaze + NME + i-D). The Believer, revista literária americana mensal com grafismo maravilhoso, um exemplo para todas as publicações feitas de artigos extensos; compro o número anual dedicado à música, onde as coisas boas (Greil Marcus, Elizabeth Vincentelli a escrever sobre o Eurofestival, Douglas Wolk, Bun B entrevistado por Jon Caramanica) superam as outras (£10,00, a presença de Nick Hornby, um CD ainda não ouvido por ser pouco prometedor – Calexico, Jim White, Six Organs of Annoyance…); The Believer não tem publicidade. A Blender, com artigos sobre as Pussycat Dolls, T.I., Nelly Furtado, Michael Jackson, uma curiosa roadtrip musical americana…). Vi também a Modern Painters dedicada à música, que o Zé me havia mencionado, mas uma combinação de Devendra Banhart na capa e o 353000º artigo do grande Simon Reynolds sobre o pós-punk (variante nova-iorquina, a que menos me cativa) transportou o exemplar de novo para a prateleira.
A HMV de Oxford Street continua a ser a melhor loja de discos do mundo. Agora tem quatro pratos para a escuta de vinil (todos ocupados; quase uma dezena de pessoas em fila de espera), uma área muitíssimo considerável reservada ao vinil (singles, máxis, álbuns; várias reedições, quase tudo música novinha em folha), e carradas de CDs literalmente a preço de saldo (£4,00, £6,00…). Vieram singles das Gossip e The Long Blondes; máxi dos Justice; álbuns de T.I. e John Foxx. Veio também um CD compilação da própria HMV, Playlist, apanhado mensal de lançamentos novos oferecido a quem compra determinadas coisas ou quantidades (não percebi bem); o de Julho tem TV on the Radio, Archie Bronson Outfit, Regina Spektor, Lily Allen, Cut Chemist, Van Hunt, Rhymefest, Peaches… Colecção de singles eventuais bem melhor do que os CDs que vêm com as revistas-museu, com a vantagem adicional de não conter revista-museu acoplada.
O Prêt a Manger continua a ser, de muito longe, a melhor cadeia de comida “”rápida”” do mundo.
Regresso a Camden após cinco anos. Fim de tarde glorioso junto ao canal e ao mercado – tipo Albufeira transfigurado com camadas infindas de cultura pop.
Junto ao canal descubro uma loja-aquário da cadeia de lojas de discos, livros e filmes Fopp. Nunca tinha dado pela marca. É uma extraordinária loja de saldos permanentes. Organizam as prateleiras por preços, e os preços começam, salvo erro, nas £3,00 (!). Sucede que vendem tudo a preço de saldo, de fundo de catálogo a edições da semana passada. Tudo novo – nada de cenas em segunda mão. Se para um português isto é muito razoavelmente barato, para um inglês é quase dado. Não sei onde sacam o lucro, mas em algum lado hão-de sacá-lo, pois andam a abrir lojas novas em vários pontos de Londres. Trouxe o Cut das Slits e os dois primeiros do Jay-Z. Gastei £11,00.
O KoKo é um bonito teatrinho de antanho transformado em sala rock. É vermelho e dourado luxuoso por dentro. Tem bola de espelhos gigante no tecto.
Óptimo restaurante-bar beduíno perto de Hyde Park. Empregados franceses.
A edição de sexta-feira do The Guardian está francamente melhor do imaginava. O formato berliner é simpático, sim, mas um grafismo moderno e compreensível que valoriza textos extensos em vez de os anular é absolutamente essencial. Traz um caderno (formato A4) todo dedicado à gigantesca vaga de imigrantes polacos que seguiram para o Reino Unido desde a adesão da Polónia à União Europeia. Apanha-lhes histórias e busca todos os ângulos possíveis. Tem páginas sobre a cultura britânica contemporânea escritas em polaco. O equivalente do The Guardian aos nosso suplementos culturais das sextas é um caderno-extensão berliner do jornal chamado, salvo erro, Music & Films. Recomenda-se vivamente (o Guardian que chega a Portugal é a edição internacional, um resumo da versão brit, logo sem muitas destas coisas), porque parece fazer o que deve ser feito – menos textos, textos extensos. Assim de repente, parece o jornal diário que melhor reflecte o tempo em que se vive.
Comentários
Aliás, depois de a ter descoberto, comecei a topar referências a ela em fóruns ingleses.
Desconfio que a chegada do vinil será uma questão de (pouco) tempo. O vinil está a voltar em força, em Londres e não só (já havia reparado no mesmo fenómeno em Barcelona há um mês).
e sim, o vinil vai voltar, nesta altura acho que as vendas de cd's estão mesmo a pique, eu cá já subscrevi o emusic e por 19 dolares por mês - que é o preço de um cd por cá - descarrego (legalmente) uma média de 10 albuns acabadinhos de sair que (não) vão chegar às (nossas) lojas daqui a uns mesitos... o som analógico e aquelas capas irresistiveis - de 7, 10 ou 12 polegadas - são a unica forma de haver concorrencia aos downloads (e de dar a machadada final no cd).
Por cá há tb algumas lojas com uma selecção vinilica interessante (e cada vez maior).
não sei como são lá as borders, mas se forem como as americanas são horas a desfolhar revistas, com um anjo no ombro a aconselhar a poupança e um diabo na orelha a dizer - leva!, onde é que lá arranjas disto? vais arrepender-te!! - e assim, nestas indecisões se passa o tempo a rranjar pretextos para a decisão mais acertada (que no fundo só poderia ser uma - trazer tudo e devolver se não interessasse - tipo biblioteca - o que além do mais seria ecológico)
londres, lá vou eu ter de amansar as sapatilhas...
PS: Já li a tua resposta no tópico da bola. Basicamente, não vou mais mexer em moscas que já estão mais que mortas. ;)
Mas é verdade - ia tirando revistas das prateleiras, depois reparava no volume obsceno que já transportava, no interesse relativo das ditas cujas, no dinheiro que ia gastar, e lá fui depurando a escolha até chegar a um número racional. Mais ou menos como costuma acontecer nas lojas de discos.
Embora não tenha especial inclinação fetichista por determinados objectos, ainda nem sequer encarei a possibilidade de ter discos/ música em formatos não-físicos. Soluções como essa do Emusic são incrivelmente convidativas e sei que um dia destes acabarei por seguir por aí, mas não estou exactamente com pressa. :-)
Além do esplendor visual do objecto, da dedicação inerente ao seu cuidado, e à relação mais próxima com a música inerente aos discos de vinil (ter de se levantar a cada três minutos, ou a cada 10, ou a cada 20 para pôr mais música a girar implica uma relação diferente com a música do que deixar um leitor de mp3 a debitar som horas a fio em piloto automático), o que mais me agrada neste suave regresso do vinil tem mais a ver com a obrigatoriedade de apelar de novo à capacidade de síntese e de selecção de quem faz música. Pela experiência das últimas duas décadas, já deu para ver que um álbum de 40 minutos é quase de certeza melhor e mais passível de ser escutado de uma só vez do que um pastelão de 70 e muitos minutos para onde se despejam as músicas todas que se escreveram apenas porque se pode e porque se acha que isso é "value for money". Não é. "Value for money" é (devia ser...) outra coisa.
As borders americanas são de facto um paraiso para quem gosta de revistas; e nalguns estados (ou pelo menos nalgumas zonas urbanas), há uma em cada quarteirão!
E o diso seria todo teu, não se desse o caso dele fazer, literalmente, parte da capa da revista. Não é um daqueles que vem colado na capa, a gente tira e está a andar. Neste caso, a capa tem um buraco ao centro, na qual se pode ver a rodela presa à página 3. Digamos que, aqui, o CD cumpre uma função estética inerente ao próprio objecto-revista. Aliás, fica ali tão bem e o seu alinhamento é tão pouco promissor que acho que nunca o vou tirar dali. :-))) Mas, se quiseres aceder ao conteúdo do CD, manda-me e-mail que a coisa resolve-se.
Ao Pedro:
Pois, eu nem sequer ainda penso no computador como armário de música... E quanto a locais de compras de papel, já ficava contente se o Porto tivesse ao menos uma sucursal da Tema.
na cave da loja de shaftesbury com charing cross.
da última vez que fui lá, no ano passado, o stock tinha emagrecido.
Mas, pela tendência actual, desconfio que o stock de vinil deles não tardará muito a começar a engordar.
Estava na brincadeirinha/provocação, mas evidentemente agradeço a disponibilidade :D
Gostei da ideia do CD como "prop" da capa, uma espécie de base de copos com música lá dentro :D
Boas leituras,
lia