Como Esvaziar Armários

Dois textos que me recordam porque é que, há coisa de um ano, mudei de eixo.

Anwyn Crawford, no seu blogue Popular Demand, explica porque é que vai deixar de gastar dinheiro com a Wire (eu deixei há mais tempo, mas devia ter cortado com aquilo logo em 1995). Citação:

Such an exchange typifies the dynamic that underpins The Wire: as self-anointed chronicler of the global musical underground its relationship with pop music is at best ambiguous, and at worst reeks of an adolescent, male, Puritan hostility. It is the trained revulsion of boys to pink glittery things and dolls, transferred to the arena of music in which ‘pop’ is associated with those weak feminine qualities of consumption and pleasure. So boys are encouraged to make loud obnoxious noises in the sandpit with their toy trucks.

Paul Morley, no Observer, diz que a pop está a morrer. Mais um a juntar-se a uma velha guarda da crítica musical incapaz de lidar com o rumo que as coisas tomam com o passar do tempo, mas com a necessidade económica de escrever e de inventar uma teoria por quinzena. Bye bye.

Comentários

Beep Beep disse…
Boa, Anwyn. Responder a um cliché com outro cliché mais do que óbvio! Só faltou dizeres que são todos virgens e vivem em casa dos pais!
Gravilha disse…
o meu corte com a wire (que tem também já alguns anos) é por motivos mais básicos e menos elaborados. a wire de pop tem realmente muito pouco e na maior parte das vezes "fala" de discos que nada me dizem (os que me dizem algo sao todos, ou quase todos, pop). e não tenho pachorra para estar a ler sobre discos que não tenho tempo nem paciencia para ouvir. prefiro o NME, com os defeitos e virtudes que tem.
Ricardo disse…
Tivesse o Anwyn se ficado pela análise do tom excessivamente coloquial da The Wire e estaríamos nós bem. O problema é que o busílis da diatribe dele se centra em algo absolutamente estéril: a The Wire é avessa à pop e dá-lhe pouca ou nenhuma atenção.
Pois bem, no shit, Sherlock! A razão de ser da The Wire nunca foi a de se debruçar profundamente sobre a pop e tudo que gira em volta dela. E tanto assim é que só em casos execionais é que assim o faz. Assim de memória, lembro-me de vários artigos sobre a Björk no auge da fama dela. Lembro-me de um grande artigo sobre o Timbaland que o Sasha Frere-Jones escreveu em 1997. Ainda me lembro também do primer que o Simon Reynolds fez sobre o grime, o artigo/capa do Peter Shapiro sobre os LCD Soundsystem ou daquele artigo/capa sobre o dubstep. Ou seja, a The Wire só dá atenção a fenómenos mais populares quando sente que, de facto, eles estão a operar uma qualquer espécie de tremor nas ordens e/ou fronteiras previamente estabelecidas dos meios em que se movem. De resto, qual o espanto e/ou motivo de crítica de a The Wire ter focos-base de sustentação? Isso seria como apontar o dedo à Popjustce por se focar imenso em tudo o que gire à volta do eixo Kylie/Take That/Girls Aloud, ou ao NME por ter no indie britânico mais conservador o seu principal sustento!

De resto, a análise gender-centered do Anwyn contrapõe-se facilmente: há, efetivamente, menos mulheres nas cenas mais The Wire-friendly; logo, é natural que menos mulheres apareçam na revista. Isso não é novidade para ninguém. E, de resto, certos clichés existem apenas porque são, de facto, verdade. Certos tipos de música atraem mais homens, enquanto outros tendem mais a atrair mulheres. Existem uma catrefada de estudos sócio-científicos que tendem a confirmar estas velhas verdades que eu diria auto-evidentes. As exceções são exatamente isso: exeções. E, como todas, apenas confirmam a regra.

Enfim, noves fora, o Anwyn perdeu tempo precioso a dissertar sobre o vazio.
Jorge Lopes disse…
Nuno: parece-me que é evidente o sentido de humor nas palavras dela e no sentido generalizador de algumas frases. Sentido de humor: coisa que as pessoas com quem ela se mete no texto gostam de achar que têm mas que, por deus, não são visíveis nem com um microscópio da Nasa.

Pedro: Do NME só me lembro de comprar, ultimamente, aquela edição com as n capas diferentes. Fiquei com algumas esperanças de melhorias quando contrataram a sua primeira directora mas, embora ela tenha encolhido inicialmente o domínio do indie, não encontrei ali motivos suficientes para ficar cliente. Mas o pior daquilo são os textos, geralmente de uma pobreza e um simplismo assustadores (a menos, lá está, que tenha mudado alguma coisa nos últimos meses).

Ricardo: Respondo assim que tiver tempo para ler a tua tese. :-)
Beep Beep disse…
Tenho dificuldades em considerar sentido de humor o velho "Gajo que gosta de música esquisita em vez de pop é atado". É mais batido que uma melodia dos Bon Jovi!

Subscrevo o que o Ricardo diz.
Jorge Lopes disse…
O texto da AC vai bastante para lá dessa eventual generalização. É uma referência claramente humorística (claríssima para mim, pelo menos) para sublinhar uma situação (a obscena desigualdade de representação de géneros na imprensa musical e mais especificamente, no caso em apreço, na Wire) estúpida. E não me recordo de ela, em sítio algum no texto, dar sequer a entender que um gajo que gosta de música esquisita em vez de pop é atado. Embora seja, ah! :-)
Beep Beep disse…
Eu vejo-o no texto todo.

Mas como é que se resolvia a situação? Instaurava-se um sistema de quotas?
Jorge Lopes disse…
O sistema de quotas parece-me sempre forçado. Nem os tops nem qualquer género musical onde a presença das mulheres é igual ou superior à dos homens alguma vez precisou de quotas para chegar a essa patamar. A situação resolvia-se... escrevendo muito mais sobre música feita por mulheres. Tão simples (simples em teoria, como se nota) quanto isto. E, digo eu, empregando mais mulheres para escrever sobre música. É exactamente isto que a AC diz no texto.
Gravilha disse…
Não creio que o NME tenha mudado muito nos ultimos meses; segue a importancia que é dada ao radar de detecção de novas bandas e a atenção, em contexto british - se bem que com alguns focus em fenomenos de outras paragens - california, por exemplo - aos tops. os textos parecem-me direccionados para aquele que será o publico do NME, sobretudo teenager, que vai mais a concertos e festivais, ou que se pretende que vá mais a concertos e festivais que a discotecas ou karaokes. é obvio que os textos poderiam ter outra qualidade, outra densidade, outra construção e até menos gralhas; no entanto, continuam a apelar à descoberta do velho e do novo, ou do velho através do supostamente novo, ou do velho através do novo ou mesmo do novo através do velho. a qualidade das reportagens fotográficas, bem entendidas no contexto, parece-me muito boa. abraço,

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