Sade
Publicado em Fevereiro na Time Out Lisboa:
Sade
Soldier of Love
Sony
****
Há quem faça música dentro de padrões temporais muito próprios, e a gente ouve-os e percebe que têm toda a razão em ser assim. O rapper Gucci Mane lançou 11 discos de longa-duração (álbuns e mixtapes) em cinco anos, e tem mais dois CDs agendados para este ano. Já Scott Walker e os Blue Nile, pelo contrário, fizeram sair não mais do que quatro álbuns de originais nos últimos 27 anos. Sade Adu e a sua banda imutável pertencem à segunda modalidade: três álbuns em duas décadas.
Mantendo a coerência, os parcimoniosos também não cedem à tentação de sobrecompensar os ouvintes na hora do regresso. Soldier of Love não é um arranha-céus de canções acumuladas desde a saída de Lovers Rock em 2000 – são os 42 minutos e as dez canções necessários. Dez cuidadas composições que têm não mais do que os versos, o toque nervoso da guitarra e o ritmo que precisam de ter. Há quem construa música por um processo de subtracção, limpando metodicamente os elementos que estão a mais. Soldier of Love, pelo contrário, prossegue um percurso discográfico criado no sentido inverso: no princípio era o silêncio, e é nesse território que se planta o estritamente imprescindível para que as canções levitem – mas sem que o resultado seja música frágil, de porcelana, evanescente.
O instrumental do tema-título tem a pulsação funda e o gosto pela repetição que se presta a ser levado por cut & paste para um tema de hip-hop (ou será que já veio de lá?). “Babyfather”, comovente, faz uma gentil mas apaixonada rasante ao reggae. De dentro de um carro em suave movimento em “Be That Easy” chegam vestígios de country. “Skin” é r&b downtempo montado na Europa, paisagístico mas com todo o groove obrigatório. Sobre tudo isto encontra-se a voz de Sade, tenuemente rouca, sem overacting, exemplar. O primeiro disco majestático de 2010.
Sade
Soldier of Love
Sony
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Há quem faça música dentro de padrões temporais muito próprios, e a gente ouve-os e percebe que têm toda a razão em ser assim. O rapper Gucci Mane lançou 11 discos de longa-duração (álbuns e mixtapes) em cinco anos, e tem mais dois CDs agendados para este ano. Já Scott Walker e os Blue Nile, pelo contrário, fizeram sair não mais do que quatro álbuns de originais nos últimos 27 anos. Sade Adu e a sua banda imutável pertencem à segunda modalidade: três álbuns em duas décadas.
Mantendo a coerência, os parcimoniosos também não cedem à tentação de sobrecompensar os ouvintes na hora do regresso. Soldier of Love não é um arranha-céus de canções acumuladas desde a saída de Lovers Rock em 2000 – são os 42 minutos e as dez canções necessários. Dez cuidadas composições que têm não mais do que os versos, o toque nervoso da guitarra e o ritmo que precisam de ter. Há quem construa música por um processo de subtracção, limpando metodicamente os elementos que estão a mais. Soldier of Love, pelo contrário, prossegue um percurso discográfico criado no sentido inverso: no princípio era o silêncio, e é nesse território que se planta o estritamente imprescindível para que as canções levitem – mas sem que o resultado seja música frágil, de porcelana, evanescente.
O instrumental do tema-título tem a pulsação funda e o gosto pela repetição que se presta a ser levado por cut & paste para um tema de hip-hop (ou será que já veio de lá?). “Babyfather”, comovente, faz uma gentil mas apaixonada rasante ao reggae. De dentro de um carro em suave movimento em “Be That Easy” chegam vestígios de country. “Skin” é r&b downtempo montado na Europa, paisagístico mas com todo o groove obrigatório. Sobre tudo isto encontra-se a voz de Sade, tenuemente rouca, sem overacting, exemplar. O primeiro disco majestático de 2010.
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