Metalheadz & The-Dream

Publicados em Janeiro no Actual do Expresso:


15 Years of Metalheadz
Vários
Metalheadz/Flur
Dos géneros musicais que definiram os anos 1990, o jungle/ drum and bass foi de longe o mais visionário, o mais fresco, o único que não soou em dívida com qualquer tipo de passado. Nessa era dourada, Goldie foi dos escassos produtores a fornecer imagem humana e carismática a um movimento tão futurista como envolto em anonimato. Em 1994, Goldie fundou a editora Metalheadz, que no final do ano passado celebrou década e meia de actividade com esta compilação. Compreensivelmente, a maior fatia de “15 Years of Metalheadz” vem do período 1995-97 e das esplendorosas estações orbitais sonoras de Doc Scott, Dillinja, J Majik e Lemon D, onde ténues linhas melódicas e vaporosos tapetes harmónicos convivem com vírus rítmicos em erupção. A partir dos anos 2000, o drum and bass foi-se circunscrevendo a uma rede global de adeptos em circuito fechado, gesto que garante a longevidade a vários géneros quando o mainstream não lhes liga e/ou a produção estagna em termos criativos. Daí a surpresa perante o fulgor, a euforia e o refinamento da meia dúzia de faixas mais recentes, com destaque para a única contribuição sonora de Goldie para esta utilíssima compilação, na pele de Rufige Kru, em ‘Beachdrifta’.


Love vs. Money
The-Dream
Def Jam
O segundo álbum do compositor, produtor e intérprete Terius “The-Dream” Nash saiu há alguns meses e não teve direito a distribuição nacional ou atenção mediática. Facto bizarro se se tiver em conta que The-Dream foi determinante em duas das canções mais ubíquas dos últimos anos: fez a perfeita “Umbrella” para Rihanna e escreveu e co-produziu a quase perfeita ‘Single Ladies (Put a Ring on It)’ para Beyoncé. Canções que bastavam para fazer dele um dos criadores r&b (logo, pop) imprescindíveis deste tempo, mas às quais junta um trabalho notável para Mariah Carey, Mary J Blige, Usher, Ciara & etc. Mariah Carey e Kanye West são dos escassos convidados de “Love vs. Money”, o ciclo de canções intimistas e nocturnas que, coisa raríssima, prova que é possível fazer um álbum quase todo em midtempo com rumo e criatividade. Em “Love vs. Money”, a voz discreta de The-Dream (da mesma escola de R. Kelly, Usher e Ne-Yo) partilha o espaço com densíssimas camadas de sintetizadores e ritmos que tanto golpeiam a caixa torácica como derramam em cataratas plásticas que remetem para o melhor Prince. Um disco que confirma como The-Dream como um génio da composição e do estúdio.

Comentários

Ricardo disse…
Dos géneros musicais que definiram os anos 1990, o jungle/ drum and bass foi de longe (..) o único que não soou em dívida com qualquer tipo de passado.

Importas-te de explicar bem esta? Até o maior patriota de sempre do jungle (aka Simon Reynolds), ao descrevê-lo - correctamente - como um mutante de hip-hop, reggae e techno, está implicitamente a admitir que o jungle, sendo uma linguagem nova, deve e muito a fontes passadas.
Jorge Lopes disse…
Sim, o jungle é isso tudo mas - e não há qualquer contradição nisto -é um género em aceleração. Usa o que lhe apetece do passado, sem reverência ou nostalgia ou melancolia por uma qualquer era dourada que se perde, e segue em frente. Algo que não se pode dizer, de todo, do grunge ou da britpop ou do hip-hop de Premiers/ old schoolers/ backpackers/ DJShadowers. Na verdade, é capaz de ter havido outra corrente pop nos 90s fundamentalmente prospectiva (e a merecer reavaliação): o nu-metal.
É realmente um espanto como é que um disco como o do The-Dream passa completamente ao lado por cá... Hoje em dia o Timbaland devia olhar mais para ele e ver como se faz em vez de se ter deixado pela preguiça...

Mensagens populares deste blogue

1993

Algo que Deve Ser Evitado

Anna Calvi