LeAnn Rimes - "Swingin"



O country (o verdadeiro, daquele feito industrialmente em Nashville, e não 90% daquelas secas "alternativas") põe as plaquetas a funcionar. A voz de LeAnn Rimes, vibrante, é também uma peça essencial.

Comentários

Beep Beep disse…
E eis que o gajo que ataca o rock "conservador" abraça o género mais conservador de todos.
Jorge Lopes disse…
Mas eu gosto de muitos géneros conservadores! Num dia ideal, passaria o tempo a ouvir Rolling Stones, Steely Dan, Bob Seger, Carole King, Van Morrison, Taylor Swift, Fleetwood Mac, Emmylou Harris...

É bom de ver que nada disto é indie. E não há na música nada mais desprezível do que a indústria indie.

Resumindo: géneros conservadores, sim; géneros calcificados, não. :-)
Beep Beep disse…
A parte em que a country-Nashville não está calcificada é que me está a escapar. Para mim isto é o equivalente à alegria parola de um Netinho.
Ricardo disse…
Eu gostava era que me explicassem como é que um não-género sem identidade sonora alguma e definível mais por questões afectivas/posicionamento/etc. se pode calcificar. Agradecia mesmo, se não fosse muita maçada, sff!

E pôrra, desde quando é que a música dos Steely Dan e dos Fleetwood Mac (sim, falo mesmo da fase yacht rock deles) é conservadora? A música pode soar/ter ar arrumado; mas as estruturas (principalmente nos Steely Dan) são tudo menos convencionais.

Quanto à não-calcificação da country music Nashvilliana, isso até é simples de explicar. É ler este mui estimável artigo da Popmatters e, no fim, e no fundo, aplicar a evolução das correntes dominantes no mainstream americano aos seus respectivos períodos temporais.

http://www.popmatters.com/pm/column/123260-pour-some-sugarland-on-me-why-country-music-is-the-new-classic-rock
Beep Beep disse…
Realmente está um artigo muito bom. Mas no fundo é uma mistura profundamente reaccionária. De reaccionários para reaccionários. Que se baseia numa visão ultra-redutora da música, que associa o rock imutável à "verdade", e o resto, incluindo 99,9999% do que aparece neste blog, ao "falso", à "não-música". Daí eu nem notar a diferença quando as ouço. Soa-me, como disse, a alegria parola.

Aliás, o que têm em comum os artistas da lista do JML?
"Rolling Stones, Steely Dan, Bob Seger, Carole King, Van Morrison, Taylor Swift, Fleetwood Mac, Emmylou Harris..."
Todos, menos a Taylor Swift, apareceram nos 60s ou 70s. E muitos não foram conservadores, e sim pioneiros. Apenas hoje olhamos quem os imite como conservadores. Fará sentido chamar os Gang Of Four ou os PiL de música conservadora por causa de todos os imitadores dos últimos anos?
Ricardo disse…
Bom, esta canção em particular da LeAnn Rimes nem constitui o exemplo mais óbvio desse arena country identificado no artigo da Popmatters.
Seja como for, sinto que tenho de explicar um pouco melhor o que escrevi acima. Se reparares bem, durante os anos 90 (a década da primeira grande explosão da country; vide Garth Brooks, Tim McGraw, etc.), a country estava na sua fase anos 70. O próprio Garth admitia, como influências maiores, os Kiss, os Aerosmith e o Billy Joel. Eu diria que, dos três, foi precisamente o último aquele cuja influência mais se fazia sentir, de um modo geral, na música dele. Ainda assim, uma sessão intensiva de audição de alguns dos artistas country mais proeminentes há duas décadas atrás indica-me que a influência-mor daquela gente é os Eagles e restante brigada country-rock de arestas limadas. E, seguindo a lógica, é óbvio que os anos 00 foram a década em que os anos 80 do rock FM e do hair metal entraram Nashville adentro.
Tudo isto para dizer que os anos 90 já começam a introduzir-se na country music mais comercial. A Taylor Swift é, precisamente, o exemplo mais óbvio. Aquilo soa, basicamente, a uma Sheryl Crow ou qualquer outra singer/songwriter da era Lillith Fair, mas com steel guitar e violinos. E existem mais sinais. O Darius Rucker (aka Hootie & The Blowfish) "went country" e não se deu nada mal, embora a música dele soe exactamente ao que soava no auge dos Hooties. O Dave Matthews fez um dueto com o Kenny Chesney. E aquilo que ouvi da Miranda Lambert sugere-me uma Melissa Etheridge heterossexual. Ou seja, prepara-te para, daqui a uns anos, se falar de algo como adult alternative country ou coisa que o valha.
Jorge Lopes disse…
Indie calficidado > Não estou a falar de géneros ou não-generos. Estou a falar de uma cultura/ ideologia calcificados.

F.Mac + S.Dan > De facto, nada têm, como nunca tiveram, de conservador. Na verdade, arrependi-me de os mencionar nesse contexto 10 segundos depois de postar a resposta. :)

Texto PopMatters > Ainda não o li. Quando fizer mando feedback.

Go4 + PiL > Pode não fazer sentido dizer que a música deles é conservadora, mas... O conservadorismo ou a sua rejeição não são características intrínsecas. Ou seja, é perfeitamente possível que, no correr da cultura pop, e em função do legado (involuntariamente) produzido, bandas e géneros inteiros se tornem conservadores. Eu não ouço os Go4 e os PiL em 2010 da mesma forma que os ouvia em 1995 ou em 2005 (na verdade, não os ouço em 2010 tout court), e acho que o legado de entulho que eles inspiraram na última década danificou seriamente (de forma irreversível? who knows...) a minha percepção da música deles. Ou seja: conceitos mutáveis, parâmetros mutáveis, etc.
Beep Beep disse…
Continuo a não achar que faça qualquer sentido culpar as bandas pelos copiões. Aliás, quando se trata de bandas cuja filosofia era mesmo "Façam qualquer coisa de novo", e que não têm paciência para esses copiões, menos ainda me parece que isso faça sentido. No limite vamos começar a culpar os Beatles (que inspiram tanta, mas tanta indie), os Stones, o Hendrix ("Electric Ladyland" ou Joe Satriani?), etc.

E onde é que a cultura/ideologia do country não é calcificada (julgo que o artigo que o Ricardo aqui pôs explica bem como mesmo os "crossovers" têm que seguir certas regras para apelarem aos fãs country)? Onde é que a cultura/ideologia do rock fm não é calcificada?

Prefiro ver a pop como inimiga de umas coisas (entre elas o rock "verdadeiro") e complemento de outras, entre os quais o post-punk que gerou um fluxo enorme de criatividade (ao contrário das geração pós-Franz Ferdinand).
Jorge Lopes disse…
Não é uma questão de culpar as bandas pelos copiões. É uma questão de, consciente ou inconscientemente, alterarmos a nossa percepção em relação a certas bandas de origem em função do legado que nelas se inspirou. E de nos perguntarmos se, face à pobreza da descendência, essas bandas de origem seriam assim uma fonte ou um ponto de partida tão rico quanto se imaginava. Actualmente, acho que o eventual brilho estético do melhor do pós-punk eram coisas razoavelmente self-contained.

(Aliás, acho que são precisamente as bandas e os movimentos que mais batem na tecla do "façam qualquer coisa de novo" que acabam com os legados mais pobres e derivativos.)

(Do Jimi Hendrix, ao menos, ainda se pode traçar uma linha que passa pelo Prince ou pelos Outkast.)

Nuno, o rock fm e o country não são calcificados pela simples razão que não são movimentos de reacção, como o indie é (ou foi, quando nasceu). O rock fm e o country são géneros musicais estabelecidos. Têm as suas tradições e uma sonoridade mais ou menos familiar, mais ou menos elástica de modo a absorver, mais depressa ou mais devagar, vestígios da cultura pop circundante. E é essa combinação de familiaridade, suave renovação e absorção de sinais do tempo que (também) me faz gostar desses géneros.

O indie, na verdade, é também tudo isto hoje em dia. O problema é que a sua pretensa razão de ser original era, entre outras coisas, funcionar como resposta, como negação desses mesmos valores. Na verdade, é um não-género que só existe como reacção a algo, e como tudo o que nasce sem corpo próprio, apenas com o objectivo de rejeitar qualquer coisa "estabelecida", vê-se rapidamente despido de identidade ou interesse (na verdade, a única identidade que encontro no indie é a glorificação da inépcia, a autonomia como valor intrínseco, e o pensar pequeno). Tragicamente para os ouvidos da civilização, no caso do indie, um não-género transformou-se num género, o ser-do-contra transformou-se num negócio cada vez mais vasto.

O country e o rock fm (salvaguardando, naturalmente, o monte de inutilidade que ambos hão-de albergar) sabem fazer canções com estruturas tradicionais. Têm noções de melodia e ritmo. Têm vozes que sabem cantar. Têm predisposição para serem populares. Não encontro absolutamente nada disto em 99,99% do indie.
Beep Beep disse…
Acho errado dizer que o country e o rock fm não são movimentos de reacção. São-no, na medida em que parecem lutar pelo "tradicionalismo" e pela "verdade". Ou pelo menos é o que dizem muitos dos seus adeptos. Contra o "intelectualismo", contra os "deprimidos", contra a "música de pretos", contra os "que não sabem tocar", e misturas destes todos. Quem liderou o movimento "Disco Sucks"?

Quanto ao indie, ele não nasceu contra a pop. Nasceu contra a ideia de que se tinha que estar numa grande editora e ter uma grande produção para ser musicalmente válido. Gajos como o Keith Levene, o Andy Gill ou o Jah Wobble eram tudo menos ineptos. O punk na origem foi mais anti-dinossauro rock do que anti-pop. E a cultura DIY nasceu um bocado aí. É contra o som schmindie formatado e domesticado que me irrito hoje em dia, não contra a ideia de variedade.
Jorge Lopes disse…
O country e o rock fm são géneros musicais. Não são movimentos. É uma diferença que os liberta e justifica a sua longevidade. E basta ouvir, por exemplo, a Taylor Swift ou os Lady Antebellum para reparar que o seu tradicionalismo é um tradicionalismo que sabe integrar inovação.

(E não vejo bem como é que se é contra os "deprimidos" e, ao mesmo tempo, se proclama que "disco sucks"... :))

(E, numa tangente a isto tudo, se é a variedade que se procura, há tanto disso por aí, do hip-hop ao UK Funky à country à pop mainstream ao grime ao r&b ao dubstep ao jazz à "world" music à música "erudita" contemporânea & etc, que parece uma mortal perda de tempo investir mais de 30 segundos a tentar distinguir, por exemplo, as Vivian Girls dos Los Campesinos.)
Beep Beep disse…
Se tirares a country daí e meteres coisas como o avant-metal, isso fica excelente. ;-) Escolheste duas bandas que não gosto mesmo nada. Aliás, posso dizer-te que acho o denominado movimento "chillwave" a coisa mais pateta que já vi desde a indietronica. Um verdadeiro caso de "arrested development". Não tenho qualquer interesse em ouvir um bando de patetas solipsistas declarar que tem bué saudade de ir à praia quando eram miúdos, enquanto gravam merdas básicas no seu quarto. Toro Y Moi, Neon Indian, Washed Out, Best Coast, Ariel Pink = Lixo para mim.

Em compensação, quando ouço o noise-hiphop-pop dos Sleigh Bells, ou a punk-no-wave-dub-funk dos Mi Ami, a única reacção que tenho é de delírio, de euforia, de alegria de viver. Daí que os ponha ao lado dos outros géneros. Já o rock fm vejo-o como almejando apenas o conforto. Poderei até arriscar que os seus ouvintes procuram o mesmo que os ouvintes, necessariamente em menor quantidade, do hiphop oldskool conservador: Esse tal conforto. E não vejo maior ou menor uso de produção "moderna" que disfarce isto.

(sei lá, pergunta aos fãs de Kiss, Aerosmith, Journey, Foreigner e afins que organizavam as sessões de destruição de discos :-p)
Jorge Lopes disse…
Li o texto acima linkado, e fiquei surpreendido por ter sido escrito por um especialista em country. É um texto decente, mas tom em relação àquele country é meio cínico e com pouca empatia.

De acordo com a frase do Mickey Rourke no filme. Quando a ouvi apeteceu-me cerrar o punh, esticar o braço e gritar um "Yes!" na sala de cinema. Globalmente, o rock perdeu muito mais do que ganhou com o regime grunge - mesmo que o Cobain seja dos pouquíssimos de jeito.

Tenho mesmo q ir ouvir melhor a Shania Twain. À época em que ele rebentou eu andava demasiado "toldado" pela religião Melody Maker (e restante imprensa musical britânica) para reparar. Perdi isso e muito mais... Mas é óbvio que o Mutt Lange é um tipo brilhante e que tem lugar na história.

Não vejo o que há de tão merecedor de cinismo nas temáticas, tons e sentimentos gerais das letras de country que ele menciona. Tirando as referencias religiosas, parece-me tudo coisas positivas, louváveis.

Interessante, a teoria de que talvez a indústria do rock devesse olhar melhor para a forma como o novo country-pop de arena lhe tomou o lugar.

Há todavia umas questão do tamanho de um elefante que parece passar ao lado do texto. Este country-pop de arena não é, em rigor, nenhum antídoto contra o domínio dos tops pela pop mainstream/ r&b/ hip-hop, pela simples razão de que, para também ele estar nos tops, é porque é apreciado por uma vasta quantidade de gente que também ouve e compra pop mainstream/ r&b/ hip-hop.

Por isso, mesmo que o country quisesse ser reaccionário nós, que gostamos dele, não deixamos. :-)
Beep Beep disse…
A pop mainstream talvez, mas acredita que de todos os americanos que conheci, nunca o hip-hop/r&b e a country se cruzavam. Aliás, o ódio mútuo era uma constante. Num país de 700 milhões é fácil não se cruzarem. ;) A excepção que conheço é o Tom Breihan, que tb adora "indie", hardcore, metal, etc.

(Shania Twain? Se gostares daquela "You're Still The One" então gostas mesmo. Medo!)

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