Samuel Jerónimo
Ele tem um óptimo novo álbum a sair chamado Rima. Há dois anos já havia feito outro álbum óptimo, sobre o qual escrevi o que se segue para o jornal Blitz, em Setembro de 2004:
Samuel Jerónimo
Redra Ändra Endre de Fase
Thisco
Jorge Manuel Lopes
Apesar da formação musical em guitarra, a deriva estética de Samuel Jerónimo tem levado a um aprofundamento de preceitos conceptuais/ experimentais que fazem com que o seu álbum de estreia seja dominado pelo som do piano.
Os primeiros instantes de «Redra» deslizam sobre uma base rítmica repetitiva de gamelão que vai acolhendo tonalidades novas. Há uma rebelião suave aos três minutos, com um novo cacho percutivo metálico mais tenso a iniciar uma cintilante viagem acumulativa, pulsação com recheio de hologramas melódicos. Ao minuto sete, o objecto das sevícias passa a ser o piano, atacado nos tons mais graves com violência matemática. Cenário: Keith Jarrett numa trituradora eufórica, um pianista em fúria cocainómana numa sessão de cinema mudo, alimentando mau humor até ao retorno do gamelão pelos 21 minutos, para um final assustador-romântico.
Em «Ändra» os cachos de partículas sonoras repetitivas perdem a violência rítmica para se deixarem contaminar por microrganismos electrónicos que deixam um rasto de Inverno nuclear, antes da reentrada hiperactiva do piano à martelada. «Endre de Fase» são 13 minutos de acumulação de linhas melódicas furiosamente extraídas ao piano, num crescendo de levantamento de poeira do chão até ficar a pairar uma espessa nuvem cinzenta. Isto, que não haja dúvidas – e apesar de o enquadramento teórico do disco sugerir uma amplitude imagética difícil de detectar –, é elogio.
Samuel Jerónimo
Redra Ändra Endre de Fase
Thisco
Jorge Manuel Lopes
Apesar da formação musical em guitarra, a deriva estética de Samuel Jerónimo tem levado a um aprofundamento de preceitos conceptuais/ experimentais que fazem com que o seu álbum de estreia seja dominado pelo som do piano.
Os primeiros instantes de «Redra» deslizam sobre uma base rítmica repetitiva de gamelão que vai acolhendo tonalidades novas. Há uma rebelião suave aos três minutos, com um novo cacho percutivo metálico mais tenso a iniciar uma cintilante viagem acumulativa, pulsação com recheio de hologramas melódicos. Ao minuto sete, o objecto das sevícias passa a ser o piano, atacado nos tons mais graves com violência matemática. Cenário: Keith Jarrett numa trituradora eufórica, um pianista em fúria cocainómana numa sessão de cinema mudo, alimentando mau humor até ao retorno do gamelão pelos 21 minutos, para um final assustador-romântico.
Em «Ändra» os cachos de partículas sonoras repetitivas perdem a violência rítmica para se deixarem contaminar por microrganismos electrónicos que deixam um rasto de Inverno nuclear, antes da reentrada hiperactiva do piano à martelada. «Endre de Fase» são 13 minutos de acumulação de linhas melódicas furiosamente extraídas ao piano, num crescendo de levantamento de poeira do chão até ficar a pairar uma espessa nuvem cinzenta. Isto, que não haja dúvidas – e apesar de o enquadramento teórico do disco sugerir uma amplitude imagética difícil de detectar –, é elogio.
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