Tem Dias

Lilly Allen, se largares a ideia parva de deixar as canções, por favor leva em consideração estas dicas.

Não, quase de certeza que não vais morrer nova. Com essa voz e esse jeito para o country bucólico, seria um crime não te ouvirmos a amadurecer. Mas diz à rapaziada para serem homenzinhos e cortarem o cabelo.

Os Freemasons são os mais infalíveis remisturadores dos últimos anos. Uma compilação das suas obras de alongamento e empolgamento de canções alheias seria uma coisa providencial e essencial. Esta remistura do já de si brilhante tema dos Hurts passa apenas a dois quarteirões de distância da casa dos Bronski Beat.

Niki & The Dove - DJ, Ease My Mind by Freeman PR Sim, que esse é também um dos preciosos atributos dos DJs. Possível roteiro geográfico-sensorial desta canção: Suécia > Moscovo > Ibiza num dia de Outono. Se tivesse aqui uma bandeira, desfraldava-a já.

Onde vai ela buscar esta voz que enche de sangue as veias desta canção mais próxima do r&b "tradicional" (quer dizer, aquele r&b que saiu dos anos 1980 e inícios de 90 - há um bocadito de Anita Baker nisto) do que é habitual?

A canção que soa ao que este dia parece quando se vê ao espelho: uma película sufocante de fumo a toldar a atmosfera, ritmo sobre brasas, um impulso pouco controlável para seguir-em-frente.

Uma emocionada declaração de fidelidade em ambiente hip-hop praticamente romântico? Onde é que este mundo vai parar?

Uma pequena odisseia do hip-hop para o r&b, dos EUA para o Reino Unido. Canções sobre a rede global e as redes sociais da rede global soam sempre, em teoria, anacrónicas à nascença. Esta tem um refrão demasiado bom para esse tipo de preocupações.

Steve Winwood forneceu a munição para uma estupenda extrapolação eurotecno ("Call on Me", Eric Prydz) e um vídeo não menos superlativo e fantasticamente heterossexual. Os Toto fornecem a munição para uma estupenda extrapolação eurotecno com tiques dos 80s, e um vídeo não menos superlativo e fantasticamente carregado de innuendos homossexuais em ambiente Miami Vice meets Flashdance.

Injectando inesperada vida no velho sucesso de Black... (brincadeira). Há várias pontas soltas dos anos 80 que ainda têm margem para reapropriações. Pontas como estas detalhadas e refinadas construções sonoras, adultas e sintéticas, que grupos como os It's Immaterial e os Tears for Fears pré-Seeds of Love sabiam montar. Aqui, os Hurts são dramáticos, planantes e sofisticados.

É apenas a 56ª melhor canção de NM. Ou seja, queda-se pelas quatro estrelas no mundo normal da pop. O autotune é por regra uma coisa fantástica, mas NM não precisa dele. Um sample de Annie Lennox soprando "No More I Love Yous" é por regra uma coisa altamente suspeita, o que se confirma. NM não deve ser diluída. NM deve ser deixada à solta.

O novo single de Alesha (Dixon) atafulha-se em ritmos (evocando a muito usada, mas também há muito arrumada numa prateleira, imagem do serviço de talheres aos trambolhões escadaria abaixo) sem perder de vista a meta pop e sexual, o divertimento & etc. Consegue ser uma canção em hora de ponta (errr, segundo sentido acidental mas apropriado) sem derrapar para o caos.

O country (o verdadeiro, daquele feito industrialmente em Nashville, e não 90% daquelas secas "alternativas") põe as plaquetas a funcionar. A voz de LeAnn Rimes, vibrante, é também uma peça essencial.

R&B + dancehall + pop + duas vozes estupendas que cantam conversando pelo calçadão numa manhã de Verão.

Dancehall suave, minimal, suave, terno , suave. Menos um bocado e a canção dissolvia-se no ar.

O balanço de Alex Macpherson da melhor música saída no segundo quarto de 2010 dava, se eu tivesse tempo para isso, para colocar aqui mais uns 50 links. O melhor, todavia, é ir directamente à fonte e escutar tudo. Dos poucos que vi, é o único balanço provisório de 2010 que interessa.

Grime-pop? Uma coisa boa.

"Don't make me start without you" - boa, miúda! Uma irresistível canção de Verão não é só para Verão. Um ritmo vagamente latino não precisa de ser feito fora de Londres/ Nova Iorque/ Los Angeles para ser bem feito. A dança do limbo é para a esquerda; é favor fazer uma fila ordeira.

Fui obrigado a entregar alguns minutos da minha vida à música dos National. Nos encontros anteriores, que por motivos de saúde não duraram mais do que uns segundos, tinham-me parecido uns Tindersticks de quarta categoria ("Tindersticks de quarta categoria" é todo um quadro Boschiano que arrepia só de se pensar nisso). Agora que lhes escutei uma mão cheia de canções, adquiri algo que anda quase nas imediações da admiração: deve ser árduo manter aquele ar profissionalmente mal disposto, monocromático, """"""profundo"""""", tabágico, solene-mas-com-pinta-pseudocasual durante uma carreira inteira. Tudo isto sem fazer qualquer coisa remotamente parecida com canções de jeito. E, ainda assim, chegar ao terceiro lugar do top de vendas nacional (é o que diz na Wikipedia).

Soul inglesa. Hip-hop inglês. Refrão pop inglês. Cachos de batidas pós-industriais inglesas. Inesperadamente, o R&G chega a 2010.

Segundo lançamento da Popjustice Hi-Fi. Synthpop colheita 1986 como deve ser.

E sim, o primeiro lançamento da editora Popjustice Hi-Fi soa, sónica e emocionalmente, a uma queda de água. (Sei que este ritmo já foi usado, tal e qual, num tema bestial dos anos 90, mas qual?) Se o último disco de Robyn não fosse um escabroso estampanço pop-com-vergonha-de-ser-pop, podia ser um pouco como "Waterfall".

Ao contrário do que o título sugere, isto não é um exercício de onanismo old school/ backpacker. Isto é Skream o mais longe possível dos resvalanços jazzy do passado, a fazer a peça digital-orquestral com que os Massive Attack (também) deviam estar agora a lidar. É esperar que o curioso vídeo não encrave no moralismo selectivo (terrorismo psicológico, sangue e tripas? façam favor; mamas é que nem pensar, que pode traumatizar as pessoas) de programadores.

Uma oferta para cinéfilos, fetichistas de formatos dos 80s e/ou artistas plásticos com o stock de fita a níveis alarmantemente baixos: Tenho para dar umas 200 e tal cassetes vídeo, todas elas preenchidas com coisas gravadas da televisão (sobretudo filmes, mas também alguns resumos de jogos de futebol, concertos, desenhos animados, programas humorísticos - várias encarnações do Herman José - e telediscos), maioritariamente entre o final dos anos 80e o final dos 90s. O departamento cinematográfico inclui boas doses de filmes de Woody Allen, Martin Scorsese, Coppola, Hitchcock, Ingmar Bergman, John Ford, Stanley Kubrick, Fassbinder, Oliver Stone, Jean Luc Godard, Roman Polanski, David Cronenberg, vários exemplares do cinema mudo (Birth of a Nation, Buster Keaton...) & etc & etc. Interessado? É só pegar no carro e ter possibilidade de deslocar-se a V.N. Gaia - e contactar-me através do email estampado no cimo deste blogue.

Um feito raro: construir uma canção sobre alicerces periclitantes como palitos, e depois divertir-se a vê-la desabar a intervalos regulares, só para que possa remontá-la uma e outra vez. O groove é a gelatina que liga tudo isto. Se alguém consegue fazê-lo, esse alguém é Wiley "chanfrado ou mãos-largas?" Wiley .

G-funk, apresento-te um dos teus sucessores no ano 2010. Óptimas harmonias r&b, o ritmo uma bola de nervos em contenção e uma linha de guitarra de pasmar, não achas?

A cena rapper nos versos + cantora no desabrochar do refrão, feita com tanta mestria como em "Love the Way You Lie" de Eminem + Rihanna. Uma canção inteira nascida exclusivamente deste refrão também seria acolhida de braços abertos.

Uma peça majestosa onde os Underworld se metem, salvo erro pela primeira vez, com o drum'n'bass. Tão intenso como (e um complemento adequado para) o óptimo álbum dos Pendulum. Tecno progressivo, se fosse possível fazê-lo nos 1970s.

Alô Verão? Ainda há espaço para mais um hino de discoteca a céu aberto + braços no ar? Há? Óptimo. PS - Como previa, "I Gotta Feeling" continua a ser uma canção brilhante, mesmo depois do quase-massacre futebolístico.

O Rei do Amor continua a fazer sublime r&b flutuante. O vídeo, que prossegue a saudável tendência corrente de se esticar para os domínios da curta-metragem, contém bom product placement e gente que se veste como deve ser - sobretudo T.I.

Vale pela voz, pelo camião rítmico que a persegue, pelo vídeo e por me fazer lembrar, nem sei muito bem porquê, "Unbelievable" dos EMF. Lá num canto do cérebro ficam as duas inevitáveis reservas: o ar meio indie da coisa e o facto de haver um Hot Chip envolvido nisto (mais uma banda que, desconfio, daria muito melhor uso ao seu conhecimento enciclopédico da pop dos 1980s e 90s se se confinasse à produção para gente com mais talento e ideias próprias).

Ritmos afiados, suaves sintetizadores em tecnicolor, voz noutra dimensão emocional. Resulta muitas vezes.

Uma chuva de menta que invade o corpo. UK Funky amplamente delicioso, e a minha forma de agradecer à estação de rádio onde é um alívio ouvir música - a acabada-de-legalizar Rinse FM. Aquilo é uma discoteca ao ar livre no Verão o ano inteiro.

Uma lição para a vida: não voltar a menosprezar o tipo menos vistoso dos Outkast. O álbum onde vem "General Patton" saiu esta semana, ao mesmo tempo de Love King de The-Dream. Se isto não é uma semana musicalmente perfeita, então não sei o que tal será.

Um sucessor dos rebentamentos ribombantes do magistral "9xs Outta 10" de DJ Quik e Kurupt.

Talvez não fosse má ideia a Leona Lewis ouvir isto antes de se lançar à próxima empreitada em crescendo. Tem a ver com a regulação da itensidade da voz em função da amplitude instrumental.

The Dream - Trilogy from Motion Family on Vimeo .