A Tribe Called Quest



A Tribe Called Quest
People’s Instinctive Travels and the Paths of Rhythm
Zomba/Sony Music
5/5

No vívido texto no livreto desta reedição, Harry Allen (“Hip-Hop Activist & Media Assassin”, é o que ele é) sublinha o quanto de Nova Iorque existe neste álbum de estreia dos A Tribe Called Quest lançado há 25 anos. Um álbum de quatro rapazes de Jamaica, Queens, crescidos nos anos 1970, que aqui trilham uma viagem de 14 canções que suplantam códigos de género musical.

O paradigma em People’s… é, até certo ponto, novo. Há afinidades com as outras bandas do movimento Native Tongues (Jungle Brothers e De La Soul, ambos com música de monta saída antes de 1990) mas isto é outra coisa: os A Tribe Called Quest vêm da ala mais minimal e vidrada nas minúcias do ritmo. As canções de Jarobi White, Ali Shaheed Muhammad, Phife Dawg e Q-Tip são lúdicas, fluídas, articuladas de pensamento e politicamente correctas na melhor acepção do termo, abertas, inteligentes, humoradas, quentes. E inventivas no emprego de samples, tão impregnados na matriz das canções que estas se assemelham a releituras – “Walk on the Wild Side” nasceu para ser revista, solta e melhorada em “Can I Kick It?”, um caleidoscópio de divertimento.

Amparando os clássicos “I Left My Wallet in El Segundo”, “Bonita Applebum”, “Can I Kick It?” e “Ham ‘n’ Eggs” há outras ousadias. Como uma faixa de abertura que é um manifesto de intenções de sete minutos (“Push It Along”) e uma dupla final (“Go Ahead in the Rain” e “Description of a Fool”) que parte rumo a uma linha do horizonte sem vozes, extensas e guiadas pelo funk. O scratch preciso e os ritmos fundos e crocantes de People’s… dão sustento ao lema do grupo (“the art of moving butts”), num disco que continua a fazer sentido na conversa estética contemporânea do hip-hop e da pop.

(Publicado na Time Out Lisboa em Dezembro de 2015.) 

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