Lady Antebellum

Publicado na Time Out em Outubro de 2010:


Lady Antebellum
Need You Now
Capitol/EMI
*****
Quando se pensa que a fonte secou, o country a valer consegue sempre agarrar os estímulos musicais certos do presente e voltar a mostrar-se majestoso. Ultimamente, isso tem acontecido graças, sobretudo, à country pop de Taylor Swift, mas também dos Band Perry e dos Lady Antebellum, de Nashville.

Factóide praticamente relevante: “antebellum” designa não apenas o período da história americana anterior à Guerra Civil mas também o estilo arquitectónico predominante no sul dos EUA nessa época; um estilo neoclássico, o que bate certo com o som que este trio faz. Need You Now é o seu segundo álbum e já vendeu nos EUA dois astronómicos (para os tempos actuais) milhões de exemplares. A edição posta à venda por cá é meio confusa, pois inclui duas faixas do álbum estreia, homónimo, de 2008.

Directo ao assunto: Charles Kelley, Hillary Scott e Dave Haywood são excepcionais criadores de canções. Além do country e da pop, eles também sabem perfeitamente como usar o rock FM flutuante dos Fleetwood Mac, actualizado por genes mais jovens e assertivos. As harmonias vocais (a voz de Scott mais clara e vibrante, a de Kelley mais funda e consternada) são o que melhor denuncia a origem do grupo. As guitarras tanto deslizam como entram em exultação com sabor a auto-estrada. Os teclados tanto lançam melodias arrebatadoras para o primeiro plano como enchem o cenário de tons quentes. Pequenos arranjos orquestrais levantam o disco um pouco mais do chão.

“American Honey” e “Perfect Day” são pequenos mas deslumbrantes cachos de minutos cantados por Hillary Scott. “If I Knew Then”, que podia ser uma balada dos Aerosmith, tinge um quadro de paixão com um final de refrão que sugere o pior arrependimento de todos: “If I knew then/ What I know now/ I’d fall in love”. E é Charles Kelley que dá voz ao tema mais tocante do álbum, um “Hello World” que treme de tensão cansada e latente até explodir em violinos, uma peça com as cores da madrugada (um homem, um pai a afastar-se de um buraco negro que tem a forma do suicídio) que podia ter saído do armário de canções solitárias dos Blue Nile se estes fossem americanos, vagamente católicos e menos dados a subtilezas. Um dos grandes discos de 2010.

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