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A mostrar mensagens de outubro, 2010

Trish - "Bump (Shoes Remix)"

...E depois de curar a ressaca amorosa de uma forma adulta e paciente (isto é, durante uma meia hora) ao som de "Gone Already", é altura de voltar a dar o corpo ao manifesto. Bonito, o ciclo da vida.

Lauryn Hill - "Repercussions"

O tom deste regresso causa alívio: nem bombástico nem, o que seria bem mais nefasto, orgânico/ espiritual. A voz dela, coisa pela qual não parece ter passado o tempo, é rodeada por um ritmo robusto, sadio. Atrás borbulha um piano-harpa geneticamente modificado - e este borbulhar é essencial para o clima inesperadamente relaxado do tema.

Faith Evans - "Gone Already"

Neste momento exacto, esta canção há-de estar a ser o colchão musical para amparar o fim de umas 14 ou 15 relações.

Take That - "The Flood"

Os Abba exemplificaram isto: porquê encaixar apenas um refrão quando dois ou três tornam tudo muito mais avassalador? Um momento notável (e um vídeo idem aspas), dos mais elevados da melhor boys band da era moderna, que em boa hora teve a gentileza de voltar a acolher Robbie Williams (que, aqui, dá uma réplica digna à esmagadora prestação de Gary Barlow). Os 5 minutos mais repetidos no meu computador nas últimas, quê, três semanas?

Girl Unit - "Wut"

Majestoso jacuzzi de sintetizadores, neon e ecos de vozes a latejar no inconsciente. Uma das melhores canções de 2010, modalidade antes-que-o-desejo-se-transforme-em-enxaqueca.

Jamie Woon - "Night Air"

O título da canção é de uma precisão científica. Como se uma pessoa da escola David Sylvian - Blue Nile tivesse crescido a ouvir funk futurista e house.

Christian TV - "Let's Just Fuck"

Christian TV "Let's Just F*ck" HD Uncensored from Christian TV on Vimeo . É a parte 5, 23 anos depois, de "I Want Your Sex" de George Michael. Fascinantes, os ritmos atordoados e empilhados. O tom absolutamente certo do refrão - lânguido e repetido como o mantra mais doce. Aquela secção intermédia em que a voz se apaga e deixa que a música coza o desejo físico ainda mais um pouco (e é tão raro, em 2010, escutar singles com secções intermédias instrumentais). A certeza absoluta que a canção podia durar mais umas horas, como um mantra com tusa. E o vídeo, muito perto do excelente.

Gucci Mane ft. Swizz Beatz - "Gucci Time"

Uma celebração da vida por duas pessoas que têm o entendimento perfeito do que é o ritmo interior.

Little Big Town - "Little White Church"

No country, nunca se sabe bem o que duas pessoas podem ir fazer a uma pequena igreja branca.

Princesa - "Más Fuego"

Uma década depois, a resposta feminina e mais ameaçadora a "Gasolina" de Daddy Yankee.

Taylor Swift - "Mine"

Claro que faltava esta. Tão evocativa, tão imagética que me seca as palavras. Dá para ouvir dias inteiros. (Nota mais ou menos lateral: os Fleetwood Mac são dos principais vencedores das escaramuças dos anos 1970.)

R. Kelly - "When a Woman Loves"

Não imaginava que R. Kelly tinha nele 64,4% do espírito de Jackie Wilson. Mas tem. Ó se tem.

Mark Ronson & the Business Intl - "Somebody to Love Me"

O que Mark Ronson (o seu primeiro álbum deixou-me muito de pé atrás em relação a ele, se calhar exageradamente) aqui consegue é algo que parece simples mas que a prática revela ser tão raro quanto complicado. Ou seja: se uns Culture Club, superior banda pop mais aberta ao mundo do que é habitual, nascessem agora e não em 1982, mas por alguma razão carregassem a sabedoria e os erros e o desgaste dos 28 anos de intervalo, a que soariam? Eis a nostalgia desesperada e a ternura radiosa e o ritmo transatlântico de "Somebody to Love Me". O vídeo, ou é o pós-modernismo esticado até ao absurdo, ou um brilhante trabalho sobre a memória.

Ciara - "Gimmie Dat"

Um feito a n níveis. É uma canção matrioska, um falso medley futurista (à primeira audição ainda pensei que era uma espécie de megamix do álbum que aí vem) que se vai desdobrando sem deixar de ser minimalista. A encenação do vídeo reflecte esse estilhaçar de cenários, além de mostrar os movimentos de Ciara, movimentos que não são íntimos com o conceito de gravidade. Quão estupendo será Basic Instinct, o disco que contém "Gimmie Dat"?

Javiera Mena - "Hasta la Verdad"

A pop devia ser a música mais internacional de todas - mais do que a erudita, o jazz, o tecno, o house, o dubstep, o kuduro & etc. É a linguagem mais plástica, a mais maleável. Uma estupidez e uma pobreza, esta visão afunilada na música inglesa e americana, que parece não permitir mais do que o tokenism daquela cantora colombiana, daqueloutra islandesa, de um punhado de brasileiros e africanos nórdicos e pronto. Uma estupidez e uma pobreza ainda mais notória perante a força cada vez maior da língua e da(s) cultura(s) hispano-americanas). Javiera Mena tem esta espantosa peça pós-italo-space-disco-funk-80s, onde os Pet Shop Boys se encontram com Annie. Descobri-a através de um site americano (The Singles Jukebox), e hão-de passar-se meses até tropeçar noutra intérprete brilhante destas, de outro país exótico .

Teairra Mari ft. Mavado - "Coins"

Aqui o ar cheira a gasolina e o oxigénio rareia. As vozes sibilantes e as erupções de buzina no refrão ajudam a causar ainda mais tonturas. Teairra Mari é boa demais para tanto low profile.

Stateless - "Ariel (Rustie's Resmak)"

Indecisa festa g-funk de computadores com o volume desajustado, no coração de uma selva exotica .

Zola Jesus - "Sea Talk"

Muito a jeito para aqueles dias em que os Knife/ Siouxsie and the Banshees/ Cocteau Twins fazem sentido.

Magnetic Man ft. Ms Dynamite - "Fire"

Este é um supergrupo que bate mesmo mesmo certo, não é? E que tem as suas próprias ideias sobre como o dubstep pode ser esculpido de forma a ficar com um corpo de canção "pop", não tem? E Ms Dynamite continua magnífica e com um percurso que não ocorreria a quem está de fora, não continua?

Sunny Sweeney - "From a Table Away"

Que ano fantástico, o da country-pop em 2010. Estes versos sobre um triângulo amoroso que (aparentemente) se desfaz, contado pelo lado mais frágil, dão pano para uma peça de teatro, ou um filme, ou um quadro. O vídeo aponta-lhe o foco, mas é sábio o suficiente para, tal como a canção, deixar áreas de impasse. A interpretação é imaculada.

N.E.R.D - "Hypnotize U"

O que poderá ter vindo dos Daft Punk, aqui no papel de produtores, para esta (inesperada?) reafirmação de vida dos N.E.R.D, coroada com uma das melhores entregas vocais de Pharrell Williams? A armada de nuvens e de noite trazida pelos sintetizadores? O sexo tecnicolor? O som de uma caixa de ritmos que parece passar quatro minutos a esbracejar para evitar o afogamento? Seja o que for, é memorável.

Rihanna - "Only Girl (in the World)"

E é assim que ela sobe do seu inferno particular para a pista de dança euro-musculada. A ponte para o refrão deixa a cavidade torácica a ferver, mas mentiria se dissesse que esta injecção de euforia é paradigmática do que torna o percurso pop de Rihanna um percurso único.

Willow Smith ft. Nicki Minaj - "Whip My Hair"

É justo dizer que, através do contributo de Nicki Minaj, este espanto de canção se tornou um bom bocado mais adulto e menos ambíguo onde, numa alucinação bem ou mal fundada, poder-se-ia imaginar existir espaço para a ambiguidade.

Darkstar - "Gold"

Um bom bocado erótico. Um crescendo quente. Esta torneira Japan-via-Junior Boys está a secar, mas por enquanto ainda sai de lá alguma coisa de jeito.

Bryan Ferry - "You Can Dance"

Recomeçar no exacto ponto onde se deixaram as coisas há não sei quantos anos atrás exige um saber muito especial. Mesmo quando o cabelo se desalinha e a voz se torna mais diáfana.

DJ Nate - "Poetry"

É poesia, é, e parece que há duas canções a lutar pelo primeiro plano dentro destes quatro minutos e tal. O gangsta vira metafísico e adquire problemas de expressão.