Pedro Abrunhosa

Publicado na Time Out Porto de Abril:


Pedro Abrunhosa & Comité Caviar
Longe
Universal
****

Longe transforma um desejo em facto: o de que o álbum anterior de Pedro Abrunhosa, Luz, saído em 2007, e pese as suas virtudes, era o som de uma linha a chegar ao fim. Na verdade, à beira de Longe, Luz era um sótão sombrio e melancólico.

Se a ideia era de ruptura, Longe consegue-o em boa parte. Longe voa para a música da América com um afinco que não acontecia por estes lados desde a estreia dos Bandemónio em Viagens. Mesmo que o voo de Longe tenha como destino, não o funk à Prince de Viagens (embora “Durante Toda a Noite”, com os metais ziguezagueantes e a jovial conversa de sedução, não soasse deslocado no álbum de 1994), antes o rock empoeirado de intermináveis e mitológicas estradas em campo aberto, sob um tecto de gospel, rhythm’n’blues e soul dos primórdios.

O som é meio nostálgico mas suficientemente pop para não se atolar em reaccionarismos retro. Um som compacto onde a respiração de cantor e banda se sente a milímetros dos ouvidos. O Comité Caviar tem os músicos certos para responderem à medida da visão de Abrunhosa para esta nova fase. Há coros e um órgão latejante em quase todos os temas. As mudanças detectam-se com outra clareza nos temas mais velozes, como na ácida crónica de costumes de “Rei do Bairro Alto”, no single “Fazer o que Ainda Não Foi Feito” e no precioso rock de frequência modulada de “Enquanto Há Estrada”, que descreve o seu habitat logo no título. Já os temas lentos, como “Pode o Céu Ser Tão Longe” e “Não Desistas de Mim”, não se afastam da matriz Abrunhosa – e fazem bem, pois esse é registo onde ele tem um toque especial e geralmente certeiro.

Longe transpira confiança e soa a um Pedro Abrunhosa renascido. É o seu álbum mais coeso desde Tempo, de há 14 anos.

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