David Byrne & Fatboy Slim

Publicado em Março na Time Out Lisboa:

David Byrne & Fatboy Slim
Here Lies Love
Nonesuch/Warner
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Imelda Marcos é a viúva de Ferdinand Marcos, presidente das Filipinas entre 1965 e 1986. Nos anos 70, Imelda costumava ser vista a dançar no clube nova-iorquino Studio 54, santuário de celebridades e do disco-sound, com o elenco que rodeava Andy Warhol. No seu túmulo, Imelda Marcos fez saber que quer que seja inscrita a frase “Here Lies Love”.

Foi esta combinação de dados biográficos que levou David Byrne a levantar um projecto onde desse para expressar um fascínio pelo que ele descreve como “a teatralidade dos mundos insulados dos ricos e poderosos”. E tomou também a grata e adequada decisão de fazer de Here Lies Love um musical portátil, encenável em discotecas. Para contar por canções a vida de Imelda Marcos (e da relação com uma ama fictícia, Estrella Cumpas), Byrne tomou a segunda grata e adequada decisão de se juntar a Fatboy Slim (Norman Cook), cujo contributo para a música popular nos últimos 15 anos tende a ser barbaramente reduzido à condição de cromo do big beat.

Tal como sucedia em I Think We’re Gonna Need a Bigger Boat, disco de 2009 do projecto all-star The BPA, Here Lies Love mostra que há um renascimento criativo de Fatboy Slim em curso. Se a ideia de Byrne era criar um corpo de canções que nunca se afastassem muito das pistas de dança, a aliança com Norman Cook foi acertadíssima: as 22 canções desta espécie de musical andam à vontade entre o clube, o palco e pop, e o recurso a um elenco de vozes convidadas quase tão grande como o número de faixas em nada afecta a consistência do projecto. Destaques? Steve Earle, Róisín Murphy e (surpresa) Florence Welch merecem-no, mas a medalha de ouro tem de ir para a quase desconhecida Theresa Anderson, que visita o mundo de Donna Summer na cintilante bomba disco-sound “Ladies in Blue”.

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