Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2010

JME ft. Wiley - "Sidetracked"

Os versos são entregues sem exaltação. As vozes processadas prolongam as sombras futuristas projectadas por sintetizadores e batidas fundidas sem romper os cabos coaxiais que unem palavras e música. Na verdade, de certa forma nem sequer há palavras-e-música - só introspecção arancada do meio do caos.

Metalheadz & The-Dream

Publicados em Janeiro no Actual do Expresso: 15 Years of Metalheadz Vários Metalheadz/Flur Dos géneros musicais que definiram os anos 1990, o jungle/ drum and bass foi de longe o mais visionário, o mais fresco, o único que não soou em dívida com qualquer tipo de passado. Nessa era dourada, Goldie foi dos escassos produtores a fornecer imagem humana e carismática a um movimento tão futurista como envolto em anonimato. Em 1994, Goldie fundou a editora Metalheadz, que no final do ano passado celebrou década e meia de actividade com esta compilação. Compreensivelmente, a maior fatia de “15 Years of Metalheadz” vem do período 1995-97 e das esplendorosas estações orbitais sonoras de Doc Scott, Dillinja, J Majik e Lemon D, onde ténues linhas melódicas e vaporosos tapetes harmónicos convivem com vírus rítmicos em erupção. A partir dos anos 2000, o drum and bass foi-se circunscrevendo a uma rede global de adeptos em circuito fechado, gesto que garante a longevidade a vários géneros quando

Cassie ft. Nicki Minaj - "Fuck You Silly"

Quando se têm ideias para três canções, o melhor é fazer uma única cantiga com os melhores pedaços das putativas três. Tantos sotaques, tantas vozes. "I'm a superwoman, boy/ I fuck you silly".

Young Money - "Roger That"

Nos EUA, discos bestiais de hip-hop e r&b são lançados na última semana do ano, aquele não-tempo que os afasta tanto dos balanços do ano que termina como dos do ano seguinte. We Are Young Money, que junta os artistas da editora de Lil Wayne, deve ser um desses casos. "Roger That" é triunfal, minimal e alegremente malicioso. E é levado pelas vozes persuasivas e carismáticas de Wayne e Nicki Minaj.

Usher - "More"

O homem que ajudou a inventar Ne-Yo regressa com a sua canção mais pop de sempre. Bendita a hora em que se juntou ao sueco RedOne (Lady Gaga, Little Boots, Brandy...). São as novas edições Europa-América.

Ludacris - "How Low"

Ludacris: How Low (Official Video) from DTP TV on Vimeo . Voz de hélio, rimas volta e meia a 160 km/h, entrada para o refrão importada de Ibiza... O que é que há aqui que não se goste?

Dandy Andy ft. Carmen Castro - "My Lonely Valentine"

Uma canção disco/ hi-nrg dos anos 1980 é regularmente atravessada por uma canção disco-sound dos anos 1970, diva incluída. Os Pet Shop Boys, Liza Minnelli, Gloria Gaynor, Eartha Kitt e Shirley Bassey hão-de gostar.

2009 Bem Explicado

Os balanços discográficos de 2009 que me passaram pela frente (e, acreditem, foram muitos) deixam a sensação de uma paragem cerebral colectiva. Às vezes tive quase a certeza de ter reencarnado na personagem principal do They Live do John Carpenter. Um caloroso abraço, então, para as únicas listas com sinais evidentes de sanidade: as do Popjustice ( singles e álbuns ) e do Marcello Carlin . Ambas, naturalmente, sem sombra dos A***** C*********.

Groove Armada - "Paper Romance"

Caros Hot Chip: é assim que se faz synthpop. Sem vozinhas indie de merda. Também é assim que se fazem vídeos com o cansaço urbano, a euforia a derreter cara abaixo. São quatro da madrugada no corpo.

Ellie Goulding - "Starry Eyed"

Demora o seu tempo a levantar voo, mas quando levanta segue pouco linearmente na direcção de Kate Bush. O seu álbum vai ser daqueles álbuns onde valerá a pena parar algum tempo este ano.

Lemar - "The Way Love Goes"

Canção mais espevitada do que lhe é habitual. Seal podia aproveitar e tirar umas notas. Pena o vídeo, que é um disparate.

Britney Spears

Publicado em Janeiro no Actual do Expresso: The Singles Collection Britney Spears CD + DVD Jive/Sony Quando se tem uma voz correcta, moldável e que não tropeça em espalhafato; quando se é uma dançarina talentosa e insinuante; quando se tem ambição e um olhar escorregadio que não se deixa fixar; e quando se rodeia de alguns dos mais geniais e/ou visionários arquitectos da pop e do r&b do seu tempo (nomes: Max Martin, Dr. Luke, Cathy Dennis, Neptunes, Bloodshy & Avant, Danja); quando se preenchem todos estes requisitos, é difícil ser uma coisa muito diferente daquilo que Britney Spears mostrou numa década nos tops: uma estrela fascinante, turbulenta, provocante e desarmante, sujeita a máxima exposição mas fugidia. “The Singles Collection” preserva tudo isto em 18 canções e 16 vídeos, do funk pneumático de ‘…Baby One More Time’ à tontura plástica de ‘Toxic’, das viagens ao negrume digital e cubista de ‘Gimme More’ e ‘Piece of Me’ à aparente estabilização corrente como diva d

JLS - "One Shot"

Boy band encontra golpes de sintetizador euro-tecno (ou será euro-pop, ou na volta euro-disco?) em ambiente r&b. Nota mental: ouvir mais vezes os N*SYNC.

Time Out 120

Sítios em Lisboa para ver música de borla. Snoop Dogg Malice N Wonderland Doggystyle/EMI No livreto de Malice N Wonderland, Snoop Dogg deixa-se fotografar de fato e gravata e de colete brasonado. É a imagem idílica do empresário de sucesso: Snoop ditando uma carta à secretária, Snoop e o seu Porsche à porta dos escritórios da editora Capitol, Snoop e a sua parede de discos de platina, Snoop atrás de uma placa de “Chairman” e ladeado por dois álbuns: Straight Outta Compton dos N.W.A. e Eazy-Duz-It de Eazy-E. Dois álbuns fundadores do gangsta rap, ambos de 1988, a lembrar que esta história já vai longa. Uma história que vai longa e que mostra com orgulho a sua notável progressão em “Gangsta Luv”. De longe o melhor momento de Malice N Wonderland, “Gangsta Luv” é uma das duas contribuições de Tricky Stewart e The-Dream (feitos prévios da dupla: “Umbrella” de Rihanna, “Single Ladies” de Beyoncé) para este disco. Das suas mãos brotam sintetizadores em bicos de pés que encontram réplica

Gabriella Cilmi - "On a Mission"

Nunca lhe tinha prestado grande atenção, mas como não admirar a sua (dela e da canção) sensualidade simultaneamente cristalina mas desconfortável, qual Róisín Murphy?

É Isto?

É.

Max Richter

Publicado em Dezembro no Actual do Expresso: Memoryhouse Max Richter BBC/ Fat Cat/ Flur Lançado em 2002 e agora reeditado, o primeiro álbum em nome próprio do músico e compositor Max Richter sobrevive aos anos passados. Gravado com a BBC Philharmonic Orchestra, “Memoryhouse” segue um conceito usado e muito abusado nos anos 1990, o da banda sonora para um filme imaginário. Sucede que Richter fá-lo com uma eloquência e precisão (da recorrência de motivos sonoros aos títulos funcionais) que impelem o ouvinte a uma consulta, infrutífera, do Internet Movie Data Base. O filme que se ouve em “Memoryhouse” é guiado pelo minimalismo. Paisagens devastadas, geladas e monocromáticas pairam no ar das 18 faixas. A palavra-chave é ‘memória’: esta é uma obra que evoca um século XX europeu em estado de pós-guerra, repleto de fantasmas que ditam a vida dos sobreviventes. Chuva cai durante ‘November’. Um estertor de ‘voz’ a uivar sufoca em ‘Sarajevo’. Há um tecto de nuvens cor de chumbo que nunca

Diabo na Cruz

Publicado em Dezembro no Actual do Expresso: Virou! Diabo na Cruz FlorCaveira/Mbari “Virou!” é o mais eufórico disco até agora saído da comunidade FlorCaveira e a confirmação do talento de Jorge Cruz, o mentor dos Diabo na Cruz, como um compositor e produtor que sabe que a distância entre a pop e a música tradicional pode ser nenhuma – e com sageza para fazer uma festa nesse território comum. ‘O Regresso da Lebre’ dá início ao disco com não mais do que a voz de Vitorino e um coro de percussões. A fusão com o rock vem a seguir em ‘Tão Lindo’. No resto deste álbum de 28 minutos há acenos aos Heróis do Mar, rendas e bordados rítmicos reminiscentes do rock progressivo e guitarras cristalinas como as da escola Television-Strokes. Os teclados de João Gil são essenciais no preenchimento cromático, como essenciais são as harmonias vocais de Cruz, B Fachada e Bernardo Barata. “Virou!” usa a noção de modernidade lançada por António Variações para obter resultados muito diferentes: aqui a c

Time Out 117 & 118

Time Out 117: Melhores discos internacionais, portugueses e de jazz & clássica de 2009. Alicia Keys Time Out 118: Catarina Wallenstein Aos 23 anos, já contracenou com Catherine Deneuve e foi musa de Manoel de Oliveira. Em 2010, Catarina Wallenstein vai andar pela televisão envolvida em histórias de vampiros. É uma actriz destemida, magnética. E canta. Se alinhavasse uma lista de desejos para 2010, desencantar umas horas suplementares de sono estaria no topo dos desejos de Catarina Wallenstein. Mas coisa rápida. Falar com a actriz (e cantora, sobretudo de ópera) de 23 anos, que transporta um apelido com longa e excelente reputação nos palcos portugueses, é como experimentar a periferia de um turbilhão. O ano 2009 trouxe Catarina Wallenstein por duas vezes para as salas de cinema, noutros tantos papéis com pouco mais em comum do que a intensidade magnética do seu olhar. Foi uma Mariana de Cruz silenciosa mas abnegada em Um Amor de Perdição, de Mário Barroso; e a mulher qu