Patrick Cowley

Originalmente publicado no extinto Fundo de Catálogo no Blitz em Abril de 2002.

PATRICK COWLEY
«MEGATRON MAN»
Megatone Records, 1982

Na alvorada dos anos 80, «Megatron Man», o tema, parecia ter descoberto o segredo da ubiquidade. Dos programas de êxitos às emissões desportivas, não havia rádio que não encontrasse utilidade para a mais conhecida criação de Patrick Cowley. Ao mesmo tempo que a pop trilhava caminhos futuristas com os Duran Duran, Human League, Visage ou Ultravox, Cowley ajudava a descobrir ousadas soluções de evolução para um disco-sound já em nítida dissolução da frescura. O nome? Hi-NRG.
Antes de encetar uma carreira a solo, Patrick Cowley passara os últimos anos da década de 70 a refinar a aplicação da electrónica à música de dança como membro da banda de Sylvester. A autonomia chega em 1981, com a criação, em São Francisco, da Megatone Records, onde lança uma fugaz sucessão de enormes e irresistíveis sucessos nas pistas de dança e no éter. As seis faixas de «Megatron Man», o álbum, resumem a mistura de hedonismo e crença ilimitada no poder visionário da tecnologia que atravessa a breve biografia musical de Cowley.
Encontra-se o padrão do que ficou conhecido como Hi-NRG no tema-título e em «Sea Hunt»: batida disco acelerada e de geometria mais rigorosa, forte motorização imposta pelo baixo, e tapeçaria de efeitos engendrados pelos sintetizadores. Em «Megatron Man», a voz surge mediada pelo vocoder. Não tão famoso como o tema de abertura, «Sea Hunt» é, contudo, das mais significativas viagens espaciais encetadas pelo disco-sound e respectiva descendência, envolta numa esplendorosa luxúria, onde um canto de sereia enfeitiça quem por ali passa, mais uma esplendorosa riqueza de detalhes cenográficos introduzidos por via electrónica. No lado b, a viagem é retomada em «Lift off», com a sua incitação, «take a trip to another dimension/ leave your troubles far behind/ make your move to mind expansion/ far beyond space and time».
O resto do álbum é preenchido com três curiosas demonstrações de eclectismo. Estranhíssima, a tentativa de fazer uma canção pop em «Teen Planet», entre o cadáver da new wave e o elogio implícito da pose robótica do momento. «Get a Little» anda mais perto da sensualidade funk de Sylvester, e o derradeiro «Thank God for Music» revela, com razoável esplendor, a raiz disco-sound da empreitada.
Patrick Cowley mal teve tempo para usufruir do sucesso alcançado por «Megatron Man». A 11 de Dezembro de 1982, aos 32 anos, pouco depois da edição do derradeiro «Mind Warp», tornava-se um dos primeiros nomes do mundo do espectáculo vitimados pela sida, à época ainda encarada como o cancro dos homossexuais. Sylvester seguiria idêntico caminho, sucumbindo em 1988. A sensação de aceleração estética sugerida pelo Hi-NRG (também chamado de gay disco) passou por muitos outros nomes, como Shannon, as Weather Girls, Man 2 Man, Dead or Alive (com «You Spin Me Round», produzido por... Stock, Aitken e Waterman), Paul Parker, Lime, Divine, Evelyn Thomas («High Energy», claro), e pelo trabalho do produtor Bobby Orlando (ou Bobby “O”), que, em 1984, gravaria a primeira versão de «West End Girls», dos Pet Shop Boys. «Blue Monday», dos New Order, também não anda longe. Não tardava nada, algumas das suas peças viriam a integrar o edifício tecno.

Descendências:
«Disco» - Pet Shop Boys
«Discovery» - Daft Punk
«Kittenz and thee Glitz» - Felix da Housecat


Jorge Manuel Lopes

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