1989

Um ano resumiu-se simbolicamente num mesmo dia ou em dias contíguos de Junho. Andei à procura da Escola Superior de Jornalismo no Porto. Conhecia não muito do Porto, menos ainda da Avenida da Boavista. Comecei a procurá-la, à Escola, a pé (não fosse escapar-me algo...), junto ao Hospital Militar. Acabei vários quilómetros depois, ainda a pé. O curso de Verão para lá entrar e os primeiros meses de universidade trouxeram a mudança de ares necessária para reter o módico de sanidade mental exigível nesse ano medonho, o primeiro de três que mudaram bastantes coisas, se calhar quase tudo. Nesse mesmo dia de Junho, ou num dia contíguo, comprei o meu disco número 100 (sim, numerava-os e etiquetava-os) - The Cure, Disintegration. Poucos anos depois roubaram-mo (o desgraçado que mo levou, a esse e a mais uns quantos, a título de empréstimo, fez deles dinheiro e do dinheiro veneno para as veias; o desgraçado já morreu). Disintegration é um espelho tão rigoroso do meu 1989 que passaram muitos anos até conseguir voltar a ouvi-lo. Outros, que também foram espelhos menores (Fairground Attraction, sobretudo Roy Orbison), primeiro não escutei, e depois, muitíssimo depois, a magia e as memórias meio desvanecidas, continuaram (continuam) a ganhar pó na prateleira.
Outra mudança de ares ajudou à sanidade por esses dias - Francelos, Miramar, mais amigos novos. A um deles chateei anos a fio para me gravar cassetes a fio da sua já então soberba colecção de discos.

Internacional – 1989

1 – Technique – New Order
2 – 3 Feet High and Rising – De La Soul
3 – New York – Lou Reed
4 – L’Eau Rouge – The Young Gods
5 – Doolittle – Pixies
6 – Words for the Dying – John Cale
7 – Playing With Fire – Spacemen 3
8 – Hats – The Blue Nile
9 – Bound by the Beauty – Jane Siberry
10 – Club Classics Volume One – Soul II Soul
11 – Paul’s Boutique – Beastie Boys
12 – Trinity Sessions – Cowboy Junkies
13 – Mystery Girl – Roy Orbison
14 – On Fire – Galaxy 500
15 – The Stone Roses – The Stone Roses
16 – Land of Rape and Honey – Ministry
17 – Cosmic Thing – The B-52’s
18 – Sounds of Confusion – Spacemen 3
19 – Fruit at the Bottom – Wendy & Lisa
20 – Candleland – Ian McCulloch
21 – Strange Angels – Laurie Anderson
22 – Pump – Aerosmith
23 – I – AR Kane
24 – Book of Days – The Psychedelic Furs
25 – Freedom – Neil Young
26 – Wrong – Nomeansno
27 – Boomerang – The Creatures
28 – Batman: Original Soundtrack – Prince
29 – Steel Wheels – Rolling Stones
30 – Disintegration – The Cure


Nacional – 1989

1 – O Rapaz do Trapézio Voador – Rádio Macau
2 – Espírito Invisível – Mler Ife Dada
3 – Música Concreta – Ban
4 – Free Terminator – Falcão Solitário Sem Ser Distorção – Santa Maria, Gasolina em Teu Ventre!
5 – De um Tempo Ausente – Sétima Legião
6 – Valsa dos Detectives – GNR
7 – Sagração do Mês de Maio – Nuno Rebelo
8 – Jogos do Mundo – António Pinho Vargas
9 – Aos Amores – Sérgio Godinho
10 – Pilar – Pilar

Comentários

Gravilha disse…
Anos depois acredita que dos amigos novos de 89, mesmo que ausentes, há velhos amigos - o que, pelo menos, não é pior.
O interesante de gravar cassetes, é que é, ou era, realmente uma chatice grava-las para quem não lhes dava o devido valor; o que não era o caso, logo, esquece a chatice, se não fosse a partilha se calhar hoje não estava aqui a escrever isto e a ouvir musica.
ena, e aqui está também parte da banda sonora da minha vida em 89 - não me lembro muito bem do que fiz concretamente em 89 (lembro-me das coisas mas não sei se foi em 88 ou em 90), mas lembro-me dos discos! Posto isto, 'bora lá combinar um jantar nem que seja só fazer uma lista das melhores cenas cómicas de 89!
Gravilha disse…
eh eh, lembrei-me agora dos Young Gods no Sa da Bandeira (Cães Vadios na primeira parte!), o salto do vocalista para a plateia é inesquecivel!!
Jorge Lopes disse…
Sim, a cena da partilha, mesmo que implícita ou «forçada» ou inconsciente, é absolutamente essencial e uma parte decisiva para sermos tantos a andar por estes cantos a fazer e a escrever sobre e a desenhar para & etc sobre música. Mas, caramba, vou quase todas as semanas à gaveta das cassetes e das cento e tal fitas gravadas que tenho entre 89 e 96, reparo que quase todas saíram de tua casa. Santa paciência! :-))))))

Esse concerto dos Young Gods + Cães Vadios foi o meu concerto favorito de sempre até ao dos Pixies + Killing Joke no Coliseu (91, salvo erro). O salto do vocalista foi «recompensado» mais tarde (ou foi ao contrário?)por uma alma mais perdida que arrancou parte de uma daquelas cadeiras de veludo (?) vermelho e a lançou para o palco.

Um jantar ou algo parecido soa bastante bem. Manda e-mail.

Cheers!

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